Os tempos são difíceis, minha alegria não só não atravessou o mar, tampouco ancorou em qualquer passarela. Sei que não sou rei desta gente tão modesta, mas meu riso teima em chorar.
Não são quatro dias que me farão esquecer os desmandos de Brasília. Como posso alegrar-me, se os fatos me fazem entristecer? Em comum, somos todos palhaços, ou senão, como entender um Moraes no Supremo? Já não há mais condições de viver o sonho que sonhamos. Liberdade, onde estás que não abres suas asas sobre nós.
Houve um tempo em que sonhar não custava nada, nossos sonhos eram reais, mergulhávamos na magia e tudo o que queríamos era sambar, quatro dias sem parar. Veio, porém a escuridão; veio a intolerância; a violência e o escárnio. Políticos, magistrados, sociedade, como um todo, aprendemos a mentir, a roubar, a matar. Não há graça no Carnaval da terra de Iemanjá, onde a cada ano mais de 50.000 pessoas são assassinadas, crianças são violentadas, mulheres agredidas, pretos humilhados. Não há realejo que me convença, neste estado de coisas, que eu serei feliz, sempre feliz. Mas, também, me nego a ser infeliz.
Sim, tiremos o sorriso do caminho, deixe nos passar com nossa dor, somos espinho, mas espinhos não machucam flores. Ardido peito, quem irá entender nosso sentimento, quanto mar a navegar, quanta insensatez a combater.
Mas, façamos samba, não haverá de ser difícil o amanhecer. Brinquemos, pois, vamos mascarar nossa dor.
Não vou prestar satisfação, nem a político, magistrado ou delegado, vou prestar continências ao meu amor, esquecer que atravesso o samba, se não estou feliz, consola-me saber que nunca fui infeliz, e não adianta dizeres que sou triste ou feliz, sei fazer do mal uma cicatriz. Vou, com todo meu recato e insatisfação, sambar, quatro dias sem parar.
Amanha há de ser um novo dia, sem nada a temer, sem Temer.
A “proibição” da liberdade de expressão
Nos últimos dias circulou nos veículos de comunicação de todo o país a fala do desembargador goiano Adriano Linhares sobre...