Caro Papai Noel,
Ando tão descrente ultimamente que resolvi apelar aos vossos préstimos, não sem antes reconhecer que andas, por demais, assoberbado, principalmente nestes dias que antecedem o Natal. Recorro-me a ti por acreditar que vossa experiência, tão bem ilustrada por estas longas e bem cuidadas madeixas brancas, haverá de sensibilizar-se ao meu pedido.
Não se preocupe que não haverei de solicitar-lhe qualquer bem material. Tampouco haverei de pedir-lhe estas coisas de difícil execução como saúde, por exemplo.
O que lhe peço, no entanto, não sei se é de fácil compreensão. Moro, como bem sabes, no Brasil, um dos poucos países, ainda, a acreditar em vossa existência. Afinal, se aprendemos a conviver com tantos e tamanhos desmandos de nossos políticos, é muito fácil acreditar em um velho trajando roupas vermelhas, vagando pelo céu dirigindo um trenó.
Duro mesmo é acreditar nas promessas de nossos políticos; trágico é acreditar em suas explicações quando apanhados em flagrante delito. Como bem sabes, este foi um ano, digamos, pra lá de pródigo em mentiras e fantasias inventadas por políticos. Das promessas eleitorais não cumpridas, passando pelas explicações mirabolantes quanto ao enriquecimento ilícito de alguns políticos, este foi um ano de doer.
Muitas de nossas crianças deixarão de receber seus presentes neste Natal; muitos de nossos professores deixarão de receber seu justo aumento; a imensa maioria de nossos médicos continuarão a trabalhar sem condições e sem digna remuneração, mas alguns de nossos políticos continuarão a usufruir das benesses do poder.
Acredite, caro Papai Noel, a coisa aqui está tão esquisita que a violência em nossas paragens adquiriu caráter epidêmico. É mais seguro morar na Síria, um país em guerra civil, do que viver em Goiânia. Lá há uma morte para cada grupo de 4200 pessoas, aqui há um assassinato para cada grupo de 3300 pessoas.
Por tudo isto o que lhe peço é, por demais, singelo. Peço que arrumes um saco bem grande e em seu interior coloque doses de decência; uma grande quantidade de elixir da vergonha, um bocado de óleo de peroba e encaminhes a uma grande parte dos políticos desonestos e corruptos que insistem em ludibriar, em mentir e em assaltar os cofres públicos. Aproveito, ainda, para pedir-lhe encarecidamente que rogue aos ministros do Supremo que aprovem a Lei da Ficha Limpa.
Sabedor de vossos esforços para fazer cumprir todo e qualquer pedido, despeço-me, cordialmente, torcendo para que o frio da Letônia não enrijeça este nobre coração.
Feliz Natal!
A “proibição” da liberdade de expressão
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