O “Dia Internacional da Mulher” foi instituído na Dinamarca em 1910, em homenagem às mulheres que morreram carbonizadas numa fábrica de tecidos, após terem sido ali trancadas após uma grande greve onde pleiteavam, entre outras coisas, a equiparação salarial com os homens (em 1857), pois chegavam a ganhar apenas um terço do salário pago aos mesmos.
Vejam só, 154 anos se passaram e, pouca coisa mudou. Na iniciativa privada, ainda hoje, todas as pesquisas revelam que as mulheres continuam ganhando cerca de 30% a menos que os homens. E esse percentual é, digamos, generoso, pra não dizer falso. Pois, a Catho, empresa especialista em colocação profissional revela outros dados numa pesquisa divulgada em seu site, que chega ao patamar de 52%.
Nesse 8 de março, o que se vê são notícias de toda ordem, comemorações ao tão aclamado “dia das mulheres”. Nada mais deprimente do que termos um dia como esse, pois junto com ele, vem a dolorosa consciência da realidade do desrespeito, da discriminação, da exclusão, do absurdo de ter que se cogitar, por exemplo, em quotas para as mulheres na política, de ter que se fazer campanhas contra o machismo como as que estão sendo veiculadas no Equador; de ter sido necessária a criação de uma lei como a Lei Maria da Penha, entre tantos outros absurdos mundo afora.
É lamentável que seja tão extraordinário termos uma mulher como presidente. É deprimente que ainda hoje tenhamos tão grandes diferenças salariais. Esse “dia” é tão afrontoso quanto o dia do índio, o dia da consciência negra, porque nos esfrega na cara, que apesar de termos sido igualadas aos homens na Constituição Federal, ainda somos vistas e tratadas como uma classe de pessoas discriminadas.
E para acabar de arrasar, essa data ridícula ainda coincidiu com o Carnaval, quando a extrema exposição da mulher como objeto, é mais evidente do que nunca. Por que será que não há homens nus, rebolando na telinha da Globo, do SBT, da RECORD?
A realidade da mulher só mudará quando ela for capaz de se dar valor, de não se vulgarizar, de não se comportar como objeto vil e vulgar, de não se vender, de não usar o corpo para conseguir vantagens, quando aprenderem a criar seus filhos e filhas da mesma forma, enfim… A igualdade tinha que ser natural… Nunca conseguirão impor uma igualdade enquanto as mentalidades permanecerem retrógradas como ainda são, impondo quotas ou criando leis.
Andréa Siqueira – Advogada, Especialista em Direito público; Vice-presidente da Comissão de Segurança e Defesa Social da OAB/GO, Subseção de Anápolis.