O resultado revelado pelas urnas em 02/10 tornou-se previsível no final, mas, poucos apostariam em um segundo turno entre João Gomes e Roberto do Órion no inicio da campanha.
Roberto atropelou adversários já bastante conhecidos do eleitor anapolino; Pedro Canedo; Carlos Antonio, Jose de Lima e Ernani de Paula. Para isto, e fundamentalmente, contribuíram seu arco de alianças e o tempo de TV, somados ao descrédito com que a política vem sendo encarada pela população.
Pedro e Carlos Antonio, uns mais, outros menos, tinham tudo para serem alçados ao segundo turno com João Gomes, mas o açodamento de Carlos Antonio ao escolher seu vice quatro meses antes da eleição, além do abandono que Marconi lhe impôs e a incapacidade de Pedro em atrair para o seu projeto o PMDB e o PTN, alijaram-nos da disputa. Partidos tradicionais da base de sustentação de Marconi correram para Roberto e as disputas paroquiais entre Caiado e Vilela descobriram, em noite de chuva, os pés de Canedo. Sem tempo de TV e enfrentando desgastes internos, deixaram o caminho livre para Roberto crescer.
Junte-se a isto o fenômeno recente da radicalização política da classe media brasileira que, ajudada por setores dominantes da política, mídia, judiciário e indústria, criminalizaram o maior partido da esquerda brasileira, o PT. Esta radicalização, também, é responsabilidade do PT e de seu projeto político de poder que levou o Partido a fazer alianças com deus e o diabo na terra do Sol, a provar e lambuzar-se de um melaço que tantas vezes condenou. A piora do ambiente econômico e social e os efeitos devastadores da Lava Jato quase sentenciaram de morte o PT. Talvez seja necessário um longo período para que a esquerda volte ao poder no Brasil. Historicamente, os ciclos de poder da direita são mais longos. A reinvenção da esquerda passa, prioritariamente, por uma mudança radical de estes partidos repensarem a política.
Nada mais previsível que alguém que renegasse a política tornasse, contraditoriamente, alternativa real de poder. Foi assim em São Paulo e em grande parte do País. E em Anápolis, também, será assim?
Fava contada, Roberto favorito, ainda é cedo para tal afirmação. Roberto não pode acreditar que tão somente o sentimento contrário ao PT o catapultará ao Olimpo. Precisa mostrar muito mais do que tem mostrado, precisa apresentar propostas realmente novas, factíveis, não iguais àquelas que, desculpe, beiram o ridículo, tal como a anunciada abertura de mais duas escolas médicas, ou a liberação de um dos lagos da Cidade para a prática de Jet Sky. Precisa dar confiança à população de que não será um novo Ernani.
João Gomes, por outro lado, ainda possui um cabo eleitoral extremamente forte: Antonio Gomide, campeão de votos entre os candidatos proporcionais, vereador mais votado da história do Município. Só Antonio Gomide, no entanto, não será suficiente para abrandar a onda anti-PT. Será preciso desconstruir a imagem de Roberto sem cair na tentação de baixar o nível de campanha. Mais ainda: será preciso convencer a população de que não compactua com os malfeitos de seu partido.
O numero elevado de abstenções, votos em branco e nulos poderá, ainda, ser maior neste segundo turno caso o eleitor permaneça entre a cruz e a espada.
PS – Na semana passada, o Instituto DataHanna nominou 21 dos 23 vereadores eleitos. O Instituto pede desculpas aos dois vereadores não citados e, principalmente ao leitor.