Impeachment é golpe, gritam os defensores do governo, os quais, implicitamente, concordam ou talvez até admirem a atual situação das coisas no país: recessão econômica, retração produtiva, desemprego, inflação, desequilíbrio entre o que gasta contra o que arrecada – tudo isso, frutos de uma gestão desastrada, infelizmente.
Alguns amigos do palácio dizem até que seria a tentativa da ´corrupção´ de se livrar de alguém não conivente com a mesma (!) – Ora, tudo que a corrupção precisa no mundo é de pessoas incompetentes desse modelo, bastam ver as cifras bilionárias discutidas e confessadas na Polícia Federal e Ministério Público – um cinismo tão desproporcional quanto a lama produzida nos últimos anos por uma oligarquia multifacetada.
Entretanto, essa última parte não é necessária para analisar o pedido de impedimento, não me refiro ao mérito do processo, isso será decidido a seu tempo, seja na comissão especial, seja no plenário do congresso, bem ou mal.
Apenas para situar a questão, a presidente não é acusada de ter contas na Suíça, não é acusada de desvio de dinheiro público, contra ela, no documento impetrado por ex-fundador do próprio partido ao qual ela pertence, denuncia-se, prioritariamente, fraude fiscal, contábil e orçamentária, eufemisticamente batizada pela mídia amiga como ´pedaladas fiscais´.
O que não se entende é a obsessão em alcunhar de golpe o que golpe não é !
Aliás, é perfeitamente compreensível essa tática, ela mira nos mais desinformados, tenta camuflar a realidade ou o objetivo, faz parte desse jogo sujo da política: mentir, mentir, enganar e mentir de novo.
O que fica é que a ferramenta de impeachment, constitucional em nosso regime democrático, não é decidido por uma única pessoa, será analisado pelo maior símbolo da democracia, o Congresso Nacional, ser contra o simples início do processo é se declarar antidemocrático – como pode ser golpe algo que será amplamente discutido, de forma representativa, por todo o Brasil ? Não, não é golpe.
Tudo o que passar disso é simples desespero, medo do resultado final, logo, se há receio é porque há fundamento, havendo fundamento, passa-se a atacar a origem, tão antigo isso quanto Caim e Abel.
Nesse intervalo, sofre toda a nação, rica ou pobre, em especial a mais pobre, visto que seu sangue, sua fome, seus filhos, são as vítimas diretas do desleixo e incompetência, enquanto os grandes lutam por seus cargos e poder e apenas isso.
Como disse, não importa o final desse processo, se a presidente sai ou não sai nesse momento é somente um detalhe, apenas não é justo concordar que o processo não possa sequer existir ou em existindo, seja demonizado por sua singela existência.
Que o processo de impeachment, independente de sua conclusão, traga ao Brasil um novo rumo, seja por meio da conscientização dos atuais governantes de que algo está muito errado, seja na figura de outros empoderados e se ainda nada mudar, que venham novos pedidos de impeachments, assim se age em um estado de direito democrático e livre, pelo menos em teoria.
Olisomar Pires – olisoblog.com