O imediatismo pode engendrar o oportunismo e até mesmo a corrupção porque turva a visão do caminho e desencoraja atitudes e iniciativas sustentáveis e promissoras. Imediatismo e oportunismo têm induzido até mesmo gente talentosa, que poderia ser bem sucedida agindo com audácia e honestidade, a buscar o enriquecimento percorrendo os atalhos da corrupção.
O desejo de obter benefícios imediatos e satisfatórios tem se manifestado com frequência na vida cotidiana, muitas vezes sob aplauso da opinião pública. É o que ocorre, por exemplo, quando alguém recorre ao poder judiciário para receber medicamento de alto custo que lhe foi negado pelo SUS, ou quando pais de alunos pedem ao Ministério Público que obrigue o prefeito ou o governador a reformar uma escola. Por que um órgão do governo nega o remédio ou protela a reforma da escola? Talvez porque o governo tenha planejado seus gastos com informações insuficientes e um diagnóstico superficial, e disso tenha resultado uma escala de prioridades que não contempla o atendimento de todas as demandas da saúde pública e da educação. Seja por essa ou outra razão, as soluções reclamadas não deveriam ser buscadas através dos tribunais mas da representação parlamentar, que aprova a previsão de gastos do governo (orçamento) e fiscaliza sua execução.
São tantas as distorções causadas pela inoperância e a confusão institucional, que tornou-se necessário e urgente realizar profundas alterações no sistema político e nos métodos da administração pública. Os vereadores, que têm atuado em grande medida como despachantes e socorristas, precisam ser elevados à condição de líderes de suas respectivas comunidades para que sejam reconhecidos como co-responsáveis pela qualidade dos serviços públicos, inclusive a segurança. Os deputados estaduais e federais precisam ser dotados de mais conhecimento da realidade vivida por aqueles que representam para que seu desempenho favoreça efetivamente o desenvolvimento das cidades e das regiões.
Dentre os fatores que conferirão maior efetividade à representação parlamentar, o voto distrital será, certamente, um dos mais incisivos. Outras condições para melhorar nosso sistema político são: a) redução do número de partidos para que eles se tornem verdadeiramente programáticos e coesos; b) fim do voto obrigatório e do financiamento público das atividades partidárias; c) simplificação da legislação eleitoral depurando-a do excesso de normas e restrições que conferem às agremiações partidárias caráter mais burocrático que político; d) estabelecimento da completa transparência dos atos públicos para que todos possam avaliar o custo e o desempenho administrativo e institucional de todos os órgãos públicos.
A verdade é que nossa democracia ainda padece das dores do parto. O retrocesso ocasionado pelo empenho do governo populista em aparelhar os órgãos públicos, corromper e manipular retardou o desenvolvimento da consciência cívica e o amadurecimento político dos brasileiros. Todavia, já podemos perceber os primeiros sinais da mudança. E, portanto, podemos dizer com a mesma esperança acalentada pelos inconfidentes mineiros que a democracia brasileira tarda em desvelar-se na sua plenitude, mas é certo que se consolidará para que valorizemos ainda mais o bem comum renovando o desejo de justiça e prosperidade.
A “proibição” da liberdade de expressão
Nos últimos dias circulou nos veículos de comunicação de todo o país a fala do desembargador goiano Adriano Linhares sobre...