Se existe algo que nos fascina e converge é a defesa ou preservação da natureza. Ao mesmo tempo, se existe algo que nos une é nossa vocação para destruí-la. A parte os sentimentos apocalípticos que amedrontam e não remetem a nenhum tipo de solução, é preciso colocar um pouco de ordem nesta discussão a respeito dos verdadeiros vilões que destroem a natureza.
Ainda nesta semana, o articulista Washington Novaes em primoroso artigo nos reflete a pensar sobre o consumo de água e a escassez deste precioso liquido capaz de provocar inúmeros conflitos no Sudão, Chade, Etiópia, Somália, Iraque, Paquistão, dentre outros. Mudanças climáticas, aumento desordenado da população e poluição estão entre as principais causas para esta escassez.
Outro tema ligado a esta área se refere a sustentabilidade. Ou seja: nossa capacidade de atendermos nossas demandas atuais sem comprometer a natureza para gerações futuras ou, no linguajar dos ecologistas, ser economicamente viável, socialmente responsável e ecologicamente consciente.
Somos frequentemente persuadidos a escolhermos entre diferentes materiais, qual ou quais são mais prejudiciais à natureza: plástico ou papel, lata ou vidro, madeira ou resinas plásticas. Como se estes materiais se encontrassem em uma disputa para saber qual deveria ser escolhido como amigo ou inimigo da natureza, baseados tão somente em sua capacidade de decomposição. Nesta análise simplista, o grande vilão é o plástico.
Simples, assim, e o futuro da humanidade estaria garantido com a substituição da sacola de supermercado por embalagens retornáveis. Não precisa ser gênio ou especialista na área para evidenciar que esta tese não é sustentável. Uma embalagem é boa, quando ela se decompõe mais rapidamente, mas ela pode ser igualmente boa se ela se permite reciclar ou mesmo se reutilizar. Tão importante quanto estas características é o destino final que damos após sua adequada utilização, ou seja, de que maneira a embalagem cumpre seu ciclo final de vida chegando aos lixões. Dos aterros/lixões existentes, 63% estão localizados próximos a áreas de exploração agropecuária, 18% próximos a áreas residências e 7% próximos a áreas de proteção ambiental, o que eleva o risco de contaminação das reservas de água potável pela ação do chorume (licor decorrente da degradação da matéria orgânica depositada nos aterros).
Segundo o Relatório do IPCC/ONU de 2007 sobre Mudanças Climáticas, as emissões do gás metano resultante da degradação da matéria orgânica em aterros e lixões totalizam algo em torno de 5% das emissões globais de gases do efeito estufa. No Brasil, onde a quase totalidade do lixo urbano gerado tem como destino final os aterros sanitários e os controlados e, principalmente os lixões e os vazadouros a céu aberto, a contribuição relativa para o aquecimento global pode ser considerada relevante.
Diferente seria se pudéssemos utilizar estes resíduos como combustível energético. Atualmente, cerca de 420 usinas que se utilizam do lixo para gerar energia encontram-se em operação somente nos Países integrantes da União Européia, tratando por ano cerca de 58 milhões de toneladas de lixo urbano, e servindo mais de 10 milhões de residências com energia elétrica ou térmica.
O Japão é outro exemplo de país onde o uso do lixo como combustível ocorre em larga escala. Cerca de 40 milhões de toneladas anuais de lixo urbano, (80% do total) são destinadas em mais de 1900 usinas de incineração, dentre as quais cerca de 10% geram energia elétrica ou térmica
Muito mais que vilões, precisamos de soluções. E elas estão ao nosso alcance elevando o debate atual. Kant observava que na floresta existe uma competição entre as arvores na tentativa de arrebatar uma sobre as outras o ar e o sol na tentativa de serem mais altas e belas.Em verdade uma floresta é bela por sua diversidade e precisa em sua exuberância de gramíneas, pequenas e grandes arvores. A natureza também precisa de um debate menos vazio e mais propositivo.
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