No fim deste texto, escreverei algo comum, algo que todo mundo espera ler. Até prevejo o desenrolar deste escrito: “Anápolis, minha cidade amada, manchester goiana no coração do Brasil”. Quem pediu para eu escrever este artigo é mais um daqueles que não tem nada para fazer e pensa que eu tenho menos ainda. Detesto escrever, tem horas. Minha profissão de jornalista já exige isto. Então pra que escrever um artigo? Por qual motivo tenho que carregar mais este peso? Mas beleza, vamos ver no que isso dá.
Era para ser algo sobre o centro de Anápolis, que mostrasse minha visão a respeito da parte central desta cidade. Mas não dá, impossível fazer isto. Até porque o conceito de centro é meio pessoal, não? Isso para não dizer relativo. Centro pode ser tudo, pode ser minha casa, pode ser o prédio da esquina, a casa do prefeito, o Hospital Evangélico, pode ser a cidade inteira. E pra que insistir em conceituar o que não tem conceito?
Anápolis tem vários centros. Por exemplo: o centro tradicional é um dos centros. É um centro que só é centro porque resolveram chamar disso, mas poderia ser qualquer coisa. E para provar que estou certo, é só olhar para ele. Ele é um centro de que? Leva esse nome pelo fato de estar no meio da cidade ou só porque parecia legal chamá-lo assim? Na verdade, de central não tem nada. Tá bom, pode até estar ali no meio. Mas enfim, pra mim ele não é centro de nada.
Pra ser centro teria que ser mais completo, deveria carregar tudo o que uma cidade normalmente tem. E, por exemplo, o centro de Anápolis não tem indústria. O centro industrial da cidade é outro. Opa, achei mais um: o DAIA. O Distrito Agroindustrial de Anápolis (hmm, que chique) é um centro. Não o chamam disso, mas ele é. Deveria até haver um movimento no município chamado “Movimento dos moradores de locais que tradicionalmente não são centros de cidade, mas que poderiam um dia chegar a ser”.
O Jundiaí. O Jundiaí, na verdade, é um centro. Dele mesmo, é claro. Começa nele, passa por ele e termina nele. As pessoas que ali moram também são centros. Do mundo, é claro. E eu moro no Jundiaí. Por isso, se a pessoa que está lendo este texto mora no Jundiaí, ela não vai ficar com raiva de mim. Muito pelo contrário, vai concordar em Gênesis, Êxodo, Levítico e Números comigo (é assim que se diz?).
Mas tipo, a coisa não para por aí. Não, não, meu amigo leitor, que de burro não tem nada e sabe do que estou falando. Há mais centros. O Filostro poderia ser o centro de qualquer coisa se quisesse. Não tem compromisso com nada, está ali, meio escondido, afastado de tudo, vive bem como está. Ele escolhe que tipo de centro quer ser. Já a Jaiara poderia ser, de repente, o Centro da África se assim o desejasse.
A Jaiara, aliás, possui uma vantagem. Como ela é uma cidade, o resto se torna um anexo, ou apêndice. Ela contém o resto e o resto está contido nela. O centro da Jaiara poderia ser Anápolis, afinal de contas, a Jaiara elege um deputado se quiser. Estadual, mas elege. Logo, elevemos a nossa nobre Jaiara ao posto de município. Anápolis é o seu bairro central. “Anápolis, minha cidade amada, manchester goiana no coração do Brasil, terra de pluralidades mil, de gente como a gente”. Eu avisei que terminaria assim, não avisei?
Mas como todo escritor, não frustrarei as expectativas dos meu leitores e trarei uma surpresa no final. Isso mesmo, bem aqui, neste parágrafo, você vai ler algo que quebre a sua expectativa e que te leve para lugares nunca antes visitados. Será um momento em que você sentirá a sublimação causada pelo inusitado, o encantamento. Será um pensamento que te elevará ao infinito e te fará pensar que Anápolis é o centro do centro do centro do centro do centro do centro. Só que não. Saiba que eu sou só um escritor comum.
A “proibição” da liberdade de expressão
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