De repente, no Brasil não se fala em outra coisa, não se cuida de outra coisa. O assunto, em todas as rodas de todas as camadas sociais, é a oitava edição do Big Brother Brasil, artifício que a Rede Globo, com muita eficiência, tem utilizado para entorpecer a mente da quase totalidade dos habitantes tupiniquins. Exageros à parte, o certo é que milhões de brasileiros, todos os dias, a qualquer hora, estão dando uma espiada no que acontece na casa mais famosa do País. Milhões de outros, não satisfeitos, ainda ligam (vários deles por repetidas vezes) para “elegerem” quem fica e quem sai da casa. Fantástica sedução social.
Quem defende o mega-programa vai dizer que ele é, apenas, uma repetição do que acontece nas televisões de muitos países e que os brasileiros somente acompanham uma tendência mundial. Verdade. Ou meia verdade. Pouca gente sabe que por detrás desse programa está uma grande rede de faturamento versada em muitos milhões de reais. Cada telefonema dado à Globo tem um custo. Têm, ainda, os que compram os pacotes para verem o programa durante todo o dia. E os que compram pacotes de telefone, para escutarem o que os moradores da casa estão falando o dia todo.
Não vai ser colocada, aqui, a questão moral, até para que não se soe como falso moralismo. A aparição sistemática dos figurantes bêbados, as cenas ardentes de relacionamentos entre eles, ficam para o julgamento de cada um. Afinal de contas, liga a televisão quem quer.
A discussão, todavia, é mais abrangente. O que se questiona é o que aconteceria no Brasil, se todos nós resolvêssemos praticar o “big brother da moralidade”. Explicando: se todos os brasileiros ligassem a TV nas emissoras do Senado e da Câmara Federal, das assembléias legislativas, se assistissem às sessões nas câmaras municipais, esse País seria outro, com certeza. Se todos nós prestássemos atenção no que acontece nas prefeituras, nos governos dos estados e no Governo Federal, quem sabe a bandalheira, que a mesma TV mostra, não seria bem menor, ou bem mais amena. Do jeito que está é que não pode, e nem deve, ficar.
Todo dia, toda hora, estoura um escândalo. O dos cartões corporativos é apenas mais um. O que estão gastando o dinheiro do povo nesse País é uma grandeza. As seguidas denúncias de corrupção, em todos os níveis são apenas, figuração? Ou elas existem mesmo? Se existem, por que a lei não tem a eficácia de mandar para a rua da amargura, para a cadeia, para onde quer que seja, esses malfeitores da pátria?
Enquanto ninguém responde a essas e outra indagações, os brasileiros honestos, trabalhadores, vão se contentando em ver, todo dia, o big brother. Aquele que mexe com o nosso imaginário, que faz a cabeça de muita gente e que, ao final, vai dar um milhão de reais para o vencedor, vai permitir a que outros participantes se tornem celebridades por determinado tempo, que as mulheres posem nuas para revistas de sexo e que, quem sabe, com uma boa dose de sorte, não viram atores ou apresentadores das redes da nossa televisão. Até o próximo BBB. Será o de número nove.
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