Caro Ribamar,
Não sei chamar-lhe Sarney
Não se preocupe, pois não se trata de um pedido de emprego. Embora saiba dos inúmeros cargos de diretoria nomeados no Senado, não pleitearia sequer aquele de Diretor de Garagens que tanta dor de cabeça lhe causou no ano passado.
Estive em Brasília na quarta-feira passada, porém, não pude visitar o nobre Senador. Não tanto por que recebias a Presidente Dilma, mas muito mais, por que não me sinto bem visitando aquela Casa de Leis.
Escrevo-lhe por que talvez não saiba da repercussão de suas declarações a respeito do sacrifício que emprestas ao povo brasileiro por ser, uma vez mais, a quarta, Presidente do Senado. Fiquei a pensar com meus botões sobre a que sacrifício referias. Tenho certeza, até por sua formação cristã, que não se trata de sacrifício pagão. De que sacrifício então falas? Sacrifício político? Exerces mandato desde o final dos anos 50. Já fostes deputado, governador, ministro, até presidente. Vives, desde então, em apartamentos funcionais, casas ministeriais, palácios governamentais, palácios presidenciais com uma enorme leva de funcionários e, infelizmente, também, puxa-sacos. Desconheço alguém mais próximo do poder neste País. Não creio, pois, que seja de sacrifício político, o que falas. Caso contrário, poderia parecer cinismo.
Sacrifício físico, talvez. Tens se ocupado tanto com arte de governar e de exercer o poder que não sobra tempo para suas atividades particulares. No Amapá creio que só tens ido para votar e, acredite, ser votado. Reclamam por lá que a última vez que lá estivestes foi tão somente na manhã de 31 de outubro. Chegastes e partistes de Learjet. Tenho um amigo médico em Pracuúba e lá nunca lhe viram. Sabes, com certeza, que este município também faz parte do Amapá. A opção por ser Senador por aquele estado foi de vossa autoria e visava, principalmente, um acesso mais facilitado ao Congresso. Portanto, não há de ser este sacrifício o que se referes.
Subentendi que vosso sacrifício se deva em estar Presidente do Senado sem querer sê-lo. Entendo, mas não foram os seus colegas que afirmaram que ruim contigo, pior sem você. Eles, pois, que lhe afaguem.
Sacrifício sofremos nós, correndo para pagar impostos, desviando de buracos, lutando por uma educação de qualidade, por acesso digno à saúde, aguentando maus políticos, nos envergonhando com escândalos quase diários de corrupção. Sem contar aqueles que, além de tudo, ganham o salário mínimo. Isto, sim, é sacrifício. Distante, muito distante, da sua noção de sacrifício.
Acabo de passar os olhos pelo livro do Maílson da Nóbrega, aquele ministro da Fazenda que impusestes ao povo brasileiro. Em uma das passagens ele afirma que estivestes a ponto de renunciar, o que, se de fato ocorresse, o pouparia do presente sacrifício. Pena!
Não quero cansar-lhe, mas gostaria de lembrar-lhe uma passagem de Romain Rolland: “se um sacrifício é uma tristeza para ti, e não uma alegria, então, não o faças. Não és digno dele”.
Um Abraço,
Elias
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