Escrevo estas mal traçadas linhas, alguns minutos após minha chegada a Belém. Embora o aeroporto seja amplo, moderno e impressione, ao primeiro contato visual, o melhor, acredito, tenha ficado atrás, pelo alto. O emaranhado de veias aqüíferas que cortam a floresta e deságuam no Guamá em busca da baia do Guajará é um espetáculo de encher os olhos.
Já em terra firme, em direção ao hotel, o que era um espetáculo, torna-se uma grande e profunda decepção. Calçadas mal cuidadas, favelas e sujeira denunciam nossa pobreza endêmica. Quanto maior e mais ao norte nossas cidades, maiores as nossas desigualdades.
Somos uma sociedade visual. Ditamos moda e costumes por aquilo que nos impressiona visualmente. Na maioria das vezes cometemos erros, injustiças. A arquitetura valorizada por uns é relegada a planos secundários por outros. É possível enxergar o belo onde a maioria só vê o feio. Mais importante, é possível contemplar pessoas belas atrás de paredes descascadas e vielas com esgoto a céu aberto. São estas pessoas que tornam o nosso país diferente. Pessoas capazes de sorrir, brincar, amar e servir ao outro sem se importar com a degradação que as cercam.
São estas pessoas de Belém, daqui e de acolá, que não merecem este triste espetáculo encenado no Congresso Brasileiro. Qualquer um destes miseráveis de nossas periferias saberiam se comportar melhor que os doutos, ricos e poderosos senadores que, neste momento, nos envergonham mais que a tristeza que vejo nas ruas.
Os olhos são a morada da vergonha, já nos ensinava Aristóteles. O que hoje se enxerga no plenário do Senado não pode – como alguns querem – ser o retrato de nossa sociedade. E aqui cabe um parêntese: poucos são os senadores que se salvam. Situação e oposição parecem compor uma orquestra de desarranjos.
Acredito, sim, que somos maiores e que as Instituições, incluído o Senado, são imunes a maus inquilinos. Belém também é muito mais que a primeira e errônea impressão. Aqui ao lado do hotel, uma imponente construção do século XIX, o Theatro da Paz, feito -me dizem – à semelhança do Teatro Scalla, de Milao, é a confirmação fiel do que vos falo. Linda Belém, só lhe peço uma coisa: não deixem que esta comedia de erros de Brasília possa, um dia, ser encenada nesta bela casa de espetáculos. Os bufões de lá são incapazes de nos fazer sorrir.
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...