Esta semana a imprensa regional (as tevês e os principais jornais de Goiânia) se ocupou de abrir espaços nas primeiras páginas, para noticiarem, e comentarem, a morte de um queixada e de uma capivara no Zoológico da Capital. O primeiro, (da espécie Tayassu pecari; família Taysasuidae; ordem dos Artiodactylas, que vive, no máximo, 20 anos) já contava com 15 janeiros em sua existência. A mesma idade da segunda, que era da família dos mamíferos (Hydrochoerus hydrochaeris). Portanto, eram dois “adultos já idosos”, que poderiam, em circunstâncias naturais, ter perdido a vida. Mas, a morte de ambos foi motivo de uma série de notícias, tornando-os celebridades. Mobilizou-se um batalhão de técnicos, veterinários, zootecnistas e outros entendidos, para a discussão sobre os infaustos acontecimentos, como se uma tragédia tivesse abatido sobre Goiânia e o mundo. No final, descobriu-se que as causas mortis foram naturais.
O que a população pergunta, indignada, é: quando será que nossas lideranças políticas e administrativas terão o mesmo cuidado e a mesma preocupação em relação aos humanos? Se é que já tiveram algum dia… Do que se sabe, pessoas morrem todos os dias nas filas dos hospitais, esperando por uma consulta, um exame, um remédio que não vêm. E, quando vêm, na maioria dos casos, chegam atrasados. É assim, ou não é? Quantas crianças recém-nascidas morrem todo dia por falta de uma UTI, por falta de atendimento especializado, por falta de sensibilidade dos responsáveis pelas políticas de saúde neste Brasil varonil. Até parece que, atualmente, bicho é mais importante do que gente. A própria imprensa tem se preocupado e se prestado ao trabalho de formar a opinião pública a esse respeito. Morrer um queixada vira notícia de capa nos chamados grandes jornais. Morrerem crianças, idosos, gente que poderia ter sido salva, caso tivéssemos um sistema de saúde, pelo menos, razoável, não é mais importante, já não preocupa tanto, já deixou de ser notícia. O trânsito que mata, a droga que mata, a violência doméstica que mata, a falta de remédio, a falta de comida, a falta de hospitais, a falta de sensibilidade também matam. Só que, pelo menos esta semana, em Goiás, as mortes de um queixada e de uma capivara, foram mais importantes do que tudo isso.
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...