Farei hoje da eterna crônica de Nelson Rodrigues, ´Complexo de Vira-latas´, o mote deste canino texto, sob risco de heresia.
Dizia o autor, em 1958, antes do campeonato mundial daquele ano, que o futebol brasileiro teria vergonha de acreditar em si mesmo, uma vez que fora terrivelmente derrotado na trágica Copa do Mundo de 1950: ´Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar´, escreveu Nelson.
Aqui se nota um equívoco. O Brasil foi campeão em 58 e embora a dor de 1950 ainda esteja viva, não chega a ser algo medonho. Na verdade, desde a Copa da Suécia para cá, o orgulho brasileiro vem se agigantando exponencialmente, diria que chegando ao ridículo ufanista dos dias atuais.
Paradoxalmente, o artigo rodrigueano de então também trazia, por parte de seu mentor, uma fé e confiança enormes na qualidade dos jogadores e os estimulava a esquecerem essa suposta ´inferioridade´ geral para se mostrarem e ao mundo seu real valor.
A questão da inferioridade brasileira encantou a muitos, desde o conde Gobineau até Monteiro Lobato, que viam na miscigenação racial uma origem degenerada e causa de indolência nacional. Homens inteligentes se enganam.
Ainda bem que Monteiro reviu seu conceito em prol do sanitarismo, tanto que lutou por melhores condições higiênicas e fez do seu personagem Jeca Tatu um exemplo didático de superação, pois, de vazio, preguiçoso e fraco, transformou-se em forte, saudável e empreendedor.
Infelizmente, o termo cunhado pelo mestre – Complexo de vira-latas – pegou e foi muito mal utilizado para explicar muitos dos nossos fracassos em campo e fora dele; Perdemos ou não evoluímos social, moral e economicamente porque não nos sentimos capazes, diziam. Uma bobagem.
Vejo que nosso principal defeito para tantas falhas é justamente o contrário do tal viralatismo. Somos uma nação dominada por um narcisismo às avessas, onde os outros são ídolos divinos e por meio deles nos sentimos também admiráveis, ainda que nada ou pouca coisa façamos ou lucremos. Enxergamos reis onde abundam mendigos.
O Brasil precisa exorcizar os profissionais do ´rouba, mas faz´, pois, se rouba, nada que faça é verdadeiro. Incluso nesse termo ´rouba´ não apenas o aspecto financeiro, como também o moral, o estético e espiritual. Falsos heróis não podem pautar nossas esperanças.
A “proibição” da liberdade de expressão
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