Desde que os franceses empregaram pela primeira vez os termos direita e esquerda para identificar posições políticas antagônicas, os mesmos passaram a representar, respectivamente, o apego ao status quo e sua contestação. Assim, no Brasil do século 18, Tiradentes e os maçons que o apoiavam encontravam-se à esquerda daqueles que se alinhavam com a coroa portuguesa. Nos EUA do século 19, o Sul secessionista com seu poder econômico, militar e paramilitar, lutando pela preservação da escravidão, evidenciava seu caráter reacionário e, portanto, à direita do ideário republicano e progressista. A revolução russa de 1917, não obstante Lênin subestimar a relação intríseca entre propriedade, liberdade e produtividade, preconizava a transformação do país numa nação de gente escolarizada, economia industrial desenvolvida e moderna em suas manifestações culturais; portanto, à esquerda do sistema de poder representado pelo czar.
Entretanto, cinquenta e sete anos depois da deposição de Fulgêncio Batista, Cuba, sob a ditadura de Fidel Castro e seus seguidores, com a economia estagnada, a população empobrecida e privada de liberdade, continua sendo identificada como um país governado por um partido de esquerda. Do mesmo modo, o Partido dos Trabalhadores, que governou o Brasil durante treze anos sem promover o desenvolvimento educacional, científico e tecnológico, operando a desindustrialização e o esgotamento da economia nacional com suas artimanhas administrativas e políticas, é também considerado uma agremiação de esquerda.
O que significa realmente ser de direita ou esquerda depois do fracasso da revolução cubana e da implosão da União Soviética? A verdade é que o tempo esvazia algumas palavras do seu sentido original. É essa a razão por que basta alguém denunciar a desigualdade, ainda que hipocritamente, esbravejando contra o liberalismo, para ser identificado à esquerda dos partidários da preservação da ordem econômica e social fundada na liberdade de informação e de empreendimento.
Nas sociedades democráticas, esquerda e direita são como o vento e o moinho. Quando a classe dirigente dedica-se apenas à busca da satisfação dos seus próprios interesses – como engenho imóvel cuja existência basta a si mesmo – o sistema econômico e social evolui para a crise com a degradação das condições de vida da maior parte da população. Os defensores do status quo defrontam-se, então, com os que clamam pela superação das deficiências do sistema agravadas pelo descuido dos governantes. É assim que, nos regimes democráticos, a rivalidade sustentada pelas forças de esquerda e direita desencadeia transformações que revigoram as relações econômicas e sociais, induzindo à superação da estagnação e, portanto, evitando o mergulho no caos.
É necessário, portanto, que, no Brasil, os líderes políticos se convençam da urgência da reforma institucional que, preservando a liberdade de expressão e de associação, desencorage a proliferação das organizações partidárias para evitar sua descaracterização. Esquerda e direita, mais do que entidades político-ideológicas, devem ser funcionais no complexo sistema das relações econômicas e sociais para impulsionar o desenvolvimento do país.
A “proibição” da liberdade de expressão
Nos últimos dias circulou nos veículos de comunicação de todo o país a fala do desembargador goiano Adriano Linhares sobre...