Não é nova a política de estímulo ao turismo em Anápolis, e o nenhum resultado alcançado revela o óbvio: o máximo que conseguimos produzir foram alguns minguados empregos aos entusiastas da idéia de fomentar a atração de visitantes. Atento a entrevista do secretário de turismo, à Rádio Manchester, mudei meus conceitos e acho que podemos chamar a atenção do mundo, mas pelo aspecto cômico das propostas da nossa programação de entretenimento.
Temos um ônibus disponível aos viajantes que se dispuserem conhecer nossos atrativos, num roteiro pomposamente chamado de city tour. Encerrada reunião do Conselho Municipal de Turismo, semana passada, o secretário anunciou o mimo oferecido aos conselheiros: um passeio pela cidade. Achei divertida e culturalmente riquíssima a programação que incluiu passagem pelo aterro sanitário e a lagoa de chorume.
Nem a Disney é capaz de proporcionar diversão tão intensa e saudável. Fiquei no estúdio imaginando a cara de satisfação dos convivas apreciando montanhas de lixo, vôos rasantes de urubus, caminhões despejando detritos hospitalares e os tratores revolvendo matérias orgânicas. Deve ser exultante passar pela lagoa de chorume, aspirar seu odor e apreciar cada detalhe das emanações. Ah, doce vida!!
Sim, esse artigo é uma blague, mas a tal proposta turística também não passa de um gracejo. Nos anos recentes participei de movimentos em favor do progresso de Anápolis, mas sempre torci o nariz para a política local de turismo. Faltam-nos os pressupostos para isso.
O turismo religioso e o de negócios, naturalmente atraem visitantes sem que haja necessidade de montar secretaria, Centro de Apoio ao Turista ou adquirir ônibus para fazer city tour. Independente de políticas específicas, empreendedores interessados em contatar nossas empresas virão a Anápolis, porque isso é bom para eles.
Com todo respeito que se deve ter às idéias alheias, é desperdício de tempo, dinheiro e de energia pensar em levas de excursionistas entusiasmados desembarcando em Anápolis em busca de lazer. Diferentemente de Caldas Novas e suas reservas termais ou Pirenópolis com seus casarios, vasto patrimônio histórico e muitos atrativos naturais.
Construímos uma cidade importante porque, no início do século 20, os antepassados acertaram na mira ao identificar a vocação comercial e industrial de Anápolis. Ao longo do percurso agregamos novos pendores na área de prestação de serviços, e assim preservamos as conquistas passadas e estamos cunhando a marca da geração atual. A estrutura ora em fase de montagem garante a abastança dos nossos filhos e netos, mas temos que (respeitosamente) expurgar as idéias extravagantes que servem a uma meia dúzia de visionários.
Quando leio folders exaltando a vocação turística de Anápolis me assalta a impressão de que estão tentando ridicularizar a cidade ou fazendo uso desses instrumentos para finalidades sem qualquer conexão os com os interesses coletivos.
Jairo Mendes – é Diretor de Jornalismo da Rádio Manchester