A morte tem o poder de “despotencializar”, enfraquecer e limitar. Ao me deparar com a morte de um amigo ou com a perda de um membro da minha comunidade, sinto-me empobrecido. Estou tentando usar palavras não convencionais para traduzir a angústia da morte.
Pedro Bial escreveu: “Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e, no meio da tarde, morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta ideia: morrer. A troco? Você passou mais de dez anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. (…)”
A palavra chiste vem do espanhol e pode ser traduzida por piada ou brincadeira. E acrescento: Uma piada de mau gosto, dita fora de hora. Se é que piada de mau gosto tem hora certa.
A Bíblia afirma que a boa palavra é como maças de ouro em salvas de prata. Contrariamente, o termo chiste é proferido pela boca de um bêbado. Já na psicanálise, trata-se do máximo de sentido na menor declaração, gerando grandes efeitos.
A Bíblia também diz que “a morte é o último inimigo a ser destruído” (1 Co 15.26). Isso significa, em primeiro lugar, que ela é inimiga e não é fraterna. Ela fere e agride e, em segundo lugar, significa também que caminharemos com ela indefinidamente.
Nesta semana, por duas vezes, tive perdas dolorosas e sempre somos surpreendidos pela dura realidade. Assim, vamos lidando com sobressaltos, com a dor, o luto e o sentimento de impotência.
Nossa humanidade está destinada à transitoriedade, à temporariedade. A vida é como um conto ligeiro, como um breve pensamento, como a erva do campo que nasce de madrugada e, à tarde, murcha e seca. Para o nihilismo, a morte é o ponto final, desespero e vácuo. Para os que creem, ela é transição e expectativa.
Jesus sempre encharcou seus discípulos com esperança. “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu pai há muitas moradas. Se isto não fosse verdade, eu jamais diria isto. Pois vou preparar-vos lugar”.
Esperança é fundamental para lidar com a angústia da morte. Gostaríamos de não ter de lidar com perdas, mas elas são inevitáveis. Atravessar o vale da sombra da morte com fé faz toda diferença.
No final da vida o apóstolo Paulo afirmou: “Eu sei em quem tenho crido, e estou bem certo, que é poderoso para guardar o meu tesouro até o dia final.”
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