
Eu confesso que já me peguei pensando várias vezes sobre o que aconteceu em Anápolis. Foram tantos desdobramentos que, confesso, perdi-me no próprio pensamento.
Uma cidade pujante e decisiva nas eleições estaduais, que muito influenciou o estado, aliás, a única cidade que ajudou a construir duas capitais – Goiânia e Brasília.
A cidade que foi berço de tantas transformações políticas e sociais, a terra de Aldo Arantes, dos irmãos Santillo, baluartes da luta pela democracia.
Terra que impulsionou a arte e a cultura, revolucionando com seus festivais de teatro — teria essa cidade revolucionária se tornado conservadora?
Anápolis foi revolucionária até mesmo no movimento religioso, sendo sede da Cruzada nacional da evangelização, um marco religioso não só no estado, mas no Brasil.
Cumpre lembrar que Anápolis tem um marco que poucos comentam, mas foi aqui que aconteceu a primeira ação armada contra a ditadura, com o assalto do tiro de Guerra.
Aquele espírito revolucionário abrandou? Teríamos trocado a inquietante ideia progressista pela calma e confortável estabilidade conservadora?
Anápolis teve grandes líderes da direita — teria sido a força dessas lideranças que se sobrepôs ao viés progressista do anapolino? Ou foi a esquerda local que sucumbiu por fraqueza própria?
Os grandes líderes da esquerda em Anápolis ainda vivos, ao que me constam, mantém seus mandatos, como por exemplo, os irmãos Otoni Gomide.
O PT reelegeu seu único vereador que foi candidato a reeleição e fez mais uma cadeira para uma jovem liderança.
Quando converso com as pessoas, muitas se dizem de direita. Mas, ao falar sobre os valores que direita e esquerda defendem, costumo ouvir: “Sou de direita, mas meus valores são esses da esquerda.”
São tantas perguntas e a resposta que até agora mais me convenceu, é que os partidos perderam o poder de encantar, os eleitores perderam o interesse e compram apenas a capa do livro “candidato”.
As últimas eleições municipais trouxeram uma situação curiosa: Diversos candidatos disputando quem era mais de direita que o outro e uma esquerda com um único representante que não obteve sucesso na eleição majoritária.
Ou os partidos de esquerda e centro esquerda se reinventam ou serão engolidos pela sua incapacidade de representar os valores dos anapolinos e teremos uma cidade cada vez mais conservadora, com saudades dos tempos de outrora, quando revolucionávamos o mundo.
Cumpre lembrar que “ninguém acorda fascista. Mas tem gente que dorme acomodado o suficiente pra virar um.”
Rodolfo Valentini é advogado, servidor público, palestrante e escritor.
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