Estou de férias há 15 dias. Exceto alguns acertos relacionados às aulas que dou numa faculdade em Goiânia e alguns eventuais contratempos, procurei não fazer nada mesmo. Aliás, viajei muito, conheci lugares incríveis, andei com amigos de longa data, e comi bem nestas férias. Minha balança certamente me denunciará quando chegar em casa.
É interessante, embora trágico, como existe um cansaço existencial de ser produtivo as 24 horas e sete dias por semana. Qual foi a última vez que você se permitiu fazer absolutamente nada sem sentir culpa? O que o “não-fazer” pode ensinar sobre nós? Alguém já afirmou que não fazer nada é uma nova forma de resistência. A pressão constante para ser produtivo, mesmo durante o descanso (férias), cria ansiedade e burnout. É necessário desacelerar e desaprender o valor próprio atrelado ao desempenho, para que não sejamos consumidos pelo trágico apelo de sempre produzir.
A armadilha de “estar sempre trabalhando” se infiltrou até no nosso tempo livre. Isto atinge forma particular aqueles que trabalham home office. Muitas vezes não há distinção entre o tempo livre e o tempo de trabalho, porque o celular anda conosco o tempo todo e é fácil confundir lazer com trabalho.
Muitos se sentem culpados por descansar. Por que sentimos culpa ao tirar férias ou simplesmente ficar sem fazer nada? Na verdade, não fazer nada é uma forma inteligente de fazer, já que o ócio criativo é a base para a verdadeira inovação e bem-estar mental. A tecnologia se tornou adversária da produtividade criativa. O celular pode facilmente nos impedir de experimentar o tédio, que é essencial para a criatividade. Não fazer é um fazer produtivo.
O ócio, que frequentemente é visto na cultura moderna como preguiça ou improdutividade, torna-se criativo quando é usado não como ausência de atividade, mas como ausência de foco forçado. O ócio criativo é o estado em que a mente é liberada para vaguear, conectar ideias e processar informações no subconsciente.
O segredo não é trabalhar no ócio, mas permitir que a mente descanse ativamente para que a criatividade possa emergir. Quando você se afasta de um problema ou para de tentar resolvê-lo ativamente, o cérebro não para de trabalhar. Ele transfere a tarefa para o modo subconsciente. O ócio permite que o Sistema de Rede Neural Padrão do cérebro seja ativado. Essa rede é responsável por fazer associações não óbvias, conectar memórias antigas a novas informações e gerar insights.
O “Momento Eureka” ou as grandes ideias raramente acontecem quando estamos sentados à mesa, forçando a mente. Elas surgem no banho, durante uma caminhada ou antes de dormir—momentos de ócio onde a mente estava livre para vagar e criar novas conexões. Afastar-se de uma tarefa permite que você retorne a ela com uma visão mais ampla, identificando soluções ou caminhos que a pressão do trabalho contínuo obscureceu. O descanso é uma forma de redefinir o problema.
O ócio se torna criativo quando você o usa para abastecer o seu poço mental. Ele não é o fim da produtividade, mas sim o intervalo necessário que permite que a mente reorganize o conhecimento e entregue a solução inovadora.
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