Enquanto nas plataformas virtuais os candidatos têm mais espaço para divulgações, veículos tradicionais são fonte de notícias críveis
Orisvaldo Pires
No campo da informação as eleições deste ano em Anápolis apresentaram uma competitiva disputa por espaço entre as redes sociais e os meios convencionais de comunicação. Em 2018, na eleição presidencial, as redes sociais assumiram impacto substancial e, segundo os especialistas, desempenharam papel semelhante em 2020 no pleito municipal. Na eleição anapolina as redes sociais podem não definir a eleição, mas foram protagonistas nos bastidores.
Mesmo antes do início da campanha formal, definida pelo calendário eleitoral, os pré-candidatos a prefeito e a vereador em Anápolis abasteceram de informações as principais plataformas na Internet. Se nos veículos tradicionais o tempo disponibilizado era contido, nas redes sociais os espaços foram utilizados com mais generosidade.
Mesmo ante o crescente poder das mídias virtuais, os veículos tradicionais ampliaram seus espaços de cobertura. O próprio jornal Contexto, na cobertura das eleições deste ano, dedicou mais páginas para a divulgação de notícias, reportagens e artigos relacionados ao pleito. As emissoras de rádio, com apoio da tecnologia e das próprias redes sociais, talvez tenham realizado a maior e mais ampla cobertura de eleição municipal em todos os tempos. A exceção foi para a TV.
O Instituto DataSenado divulgou estudo em 2019, no qual revelou que 45% dos brasileiros disseram ter considerado as redes sociais para decidir seu voto. Outros 80%, segundo a mesma pesquisa, concordaram que as redes têm influência na formação de opinião das pessoas. Um dos fatores importantes destacados é a possibilidade de interação, um feedback dos eleitores para com os candidatos.
Em Anápolis inexistem estudos precisos ou com dados consistentes sobre a profundidade do uso das redes Sociais. Mas é perceptível que acompanha o ritmo das demais regiões do Brasil e do mundo. Embora a mídia tradicional seja forte na cidade, especialmente o rádio. Faz parte da cultura dos anapolinos acompanhar as informações noticiosas pelas emissoras de rádio. Este meio de comunicação consegue sobreviver nesta realidade virtual e é utilizado como fonte crível para se contrapor às Fake News.
Fake News

Em 2020, época da pandemia da Covid-19, estudo realizado no período de 17 de março a 10 de abril e publicado por pesquisadores da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) aponta o Whatsapp como a rede social campeã na propagação de informações falsas. A pesquisa revelou que pelo menos 73,7% das notícias que circulam nesta rede é Fake News. Em Anápolis, os inúmeros grupos de Whatsapp foram palco de guerras terríveis. Nem todas as postagens tinham comprovação ou procedência.
As redes sociais foram utilizadas pela maioria dos candidatos que disputam as eleições de 2020. Entre os postulantes à Prefeitura, 100%. Dos 616 candidatos que buscam as 23 vagas na Câmara Municipal a maioria ocupou espaços virtuais, especialmente no Facebook. Esta é uma plataforma mais popular, de fácil acesso, baixo custo e atinge parcela significativa de formadores de opinião e de segmentos populares.
Uma curiosidade: enquanto nos meios tradicionais, especialmente o rádio e o jornal, os candidatos mantiveram teor mais técnico e propositivo, nas redes sociais fizeram postagens mais apimentadas. Muitas delas com denúncias contra adversários. Nas plataformas virtuais um ingrediente extra, que devido às restrições da legislação eleitoral não se observa nas rádios e TVs, é a possibilidade de comentar, de emitir opinião, contestar, discordar, concordar. Uma atividade que se transforma em atrativo para os candidatos.
Interpretação
Mas é possível se eleger apenas com as publicações nas redes sociais? O estatístico e especialista em Marketing Político, Zeca Martins, ligado à Associação Brasileira de Consultores Políticos, entende que as mídias digitais são mal interpretadas pelos candidatos que acreditam ser possível ganhar eleição nas redes sociais. Segundo ele, “ter um perfil em uma rede social não vai garantir a eleição de ninguém”.
A flexibilidade das redes sociais permitiu que os candidatos a vereador em Anápolis publicassem peças em vídeo com duração de alguns segundos a várias horas. As lives individuais e coletivas foram exploradas com profundidade, em geral com possibilidade de interação. Os candidatos a prefeito também utilizaram-se de vídeos, alguns com o mesmo teor das peças utilizadas nos programas de TV, outras abordaram temas específicos, voltados ao grupo geral de eleitores ou a representantes de nichos sociais.
Por outro lado, num esforço para manutenção de espaço, o rádio ampliou espaços para entrevistas e debates. Todas as emissoras comerciais da cidade realizaram rodadas de entrevistas com os candidatos a prefeito, com oferecimento de espaços generosos para debate de projetos. O tempo foi significativamente maior que aquele disponibilizado no horário obrigatório. Apenas um debate presencial foi realizado, pela Rádio Manchester, uma semana antes do pleito.
Em tempos de pandemia a campanha eleitoral em Anápolis cresceu nas redes sociais. Mas, por outro lado, é perceptível a reação do rádio e do jornal. Com o avanço das mensagens duvidosas e de notícias sem procedência nas plataformas sociais da Internet, o eleitor busca nos veículos tradicionais a comprovação das informações que recebe. E, como sugeriu Zeca Martins, talvez o segredo do sucesso seja se pautar pela continuidade nas redes, ampliar espaço nos veículos tradicionais e usar um para complementar o outro.