Celeiro de talentos na área literário, esse segmento representa uma força importante no contexto da cultura local
Anápolis, cidade goiana conhecida por sua importância estratégica e pelo crescimento urbano e industrial, possui também uma rica produção literária que reflete sua identidade, memória e transformações ao longo do tempo. A literatura local tem sido uma forma de preservar a história da cidade, de registrar suas mudanças e de dar voz aos cidadãos que construíram seu presente e moldaram seu futuro.
Escritores anapolinos, ao longo de diferentes gerações, têm se dedicado a narrar histórias do cotidiano, experiências pessoais, acontecimentos históricos e dilemas sociais, contribuindo para a construção de uma identidade cultural própria e plural.
Entre os pioneiros da literatura local destaca-se Haydée Jayme Ferreira, professora, memorialista, escritora e jornalista nascida em Anápolis, cuja obra mais conhecida, Anápolis, sua vida, seu povo, oferece um panorama detalhado da cidade entre as décadas de 1930 e 1950. Seus escritos são referência obrigatória para estudos históricos e culturais sobre a cidade, retratando fatos do cotidiano, trajetórias de famílias tradicionais e a evolução urbana e econômica de Anápolis.
Outro nome relevante é Carmo Bernardes da Costa, jornalista e escritor que, mesmo não sendo anapolino, contribuiu para a literatura regionalista goiana, abordando de maneira sensível as nuances da vida no interior do estado e a formação da sociedade local. No âmbito poético, o pirenopolino Érico Curado destaca-se como um dos primeiros escritores simbolistas em Goiás, com a publicação de Iluminuras em 1913, demonstrando como a produção literária da cidade dialogava com movimentos nacionais de vanguarda e estética literária. Iron Junqueira, poeta, jornalista e artista plástico, também marcou época ao explorar a cidade e sua gente em livros como Canção da Esperança e Quando Brilhar de Novo o Sol, mantendo viva a memória cultural de Anápolis em diferentes linguagens artísticas.
ULA
A literatura anapolina ganhou força a partir da criação de movimentos literários e instituições dedicadas à promoção da leitura e escrita. A União Literária Anapolina (ULA), fundada no ano 2000, consolidou-se como um espaço de incentivo à produção literária local, promovendo lançamentos, encontros, oficinas e eventos que reuniam escritores, estudantes e apreciadores da literatura. Em 2025, a ULA celebrou seu Jubileu de Prata, reforçando seu papel central na valorização de escritores e obras de Anápolis. A Academia Anapolina de Letras (ANALE) é outro espaço que reúne escritores e intelectuais da cidade, promovendo a troca de experiências e incentivando a criação literária, além de organizar eventos, homenagens e publicações que reforçam a memória cultural da região.
Entre os escritores contemporâneos, destacam-se nomes como Natalina Fernandes, escritora, poeta, dramaturga e gestora cultural, cofundadora da ULA e da ANALE, que foi pioneira na criação da Lei Anápolis em Letras, destinada a fomentar a produção literária local, e Elaine Maria Machado, coautora do Dicionário Histórico-Biográfico dos Escritores Anapolinos, obra que reúne biografias de 267 autores da cidade. José Fábio da Silva, historiador e escritor, combina narrativa ficcional e não ficcional, explorando fatos históricos e contemporâneos, enquanto Simone Athayde e Vera Valle se destacam pela produção poética e narrativa, mantendo viva a cena literária em Anápolis apesar da escassez de apoio institucional. Iraides Barbosa, autora emergente, e Laurentina Murici de Medeiros, conhecida como Dona Loló, também são nomes que se destacam por sua contribuição à literatura e à formação cultural da cidade, com trabalhos que vão desde antologias internacionais até a organização de feiras literárias locais.
A literatura anapolina, embora rica em diversidade e criatividade, enfrenta desafios significativos. Muitos escritores ainda precisam custear a própria publicação e dependem do apoio de instituições culturais e do engajamento da sociedade para manter vivas suas iniciativas. A Lei Anápolis em Letras, que visa incentivar a produção literária local, ainda carece de implementação efetiva, deixando grande parte dos autores à margem de recursos e patrocínios. Apesar disso, a persistência dos escritores, aliada à atuação da ULA e da ANALE, garante que eventos literários, lançamentos e feiras continuem sendo realizados, fortalecendo a cultura local e aproximando a população das obras e da história de Anápolis.
Em meio a essa trajetória, a literatura da cidade cumpre um papel essencial: registrar memórias, dar voz às experiências individuais e coletivas e consolidar a identidade cultural de Anápolis. A cada livro, poema ou pesquisa histórica publicada, a cidade reforça suas raízes e cria uma ponte entre passado e presente, garantindo que as futuras gerações conheçam e se inspirem nas histórias que moldaram sua trajetória. Assim, a literatura local não apenas preserva memórias, mas também constrói cidadania, cultura e consciência histórica, confirmando que a escrita é, acima de tudo, um instrumento de conexão entre o indivíduo e a comunidade em que vive.
Contribuiu com este conteúdo o historiador Jairo Alves Leite, presidente fundador do Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural Professor Jan Magalinski
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