Reflexões sobre as declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Recentemente, o mundo ficou surpreso e chocado com o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No encerramento da Cúpula dos Presidentes da América do Sul, realizada no último dia 30 de maio em Brasília, Lula afirmou que uma narrativa colocou o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez como um “demônio” e que o mesmo teria acontecido com ele durante a Operação Lava Jato. Na opinião de Lula, ambos teriam sido injustamente condenados.
Ao falar de “narrativa”, o que Lula quis dizer? Ora, que tudo o que aconteceu na Venezuela nos últimos dez anos – a grave crise econômica que reduziu o PIB do País em mais de 75%, gerou hiperinflação e provocou a migração massiva de venezuelanos, teria sido apenas uma forma de denegrir o País.
Na visão do presidente brasileiro, tudo o que se tem dito nada mais é que uma ficção bem articulada de grupos de direita para demonizar a esquerda. Ele reiterou que o mesmo ocorreu com ele. Uma “fábula” teria sido construída em torno de sua biografia para culpá-lo de algo que ele não fez. Assim, mensalão e petrolão jamais teriam existido. Tudo não passaria de mera ficção, de acordo com Luiz Inácio Lula da Silva.
Bem, anteriormente ele já havia se comparado com Jesus Cristo. Em setembro de 2016 Lula falou que, em quesito de honestidade, teria uma história pública conhecida. “Acho que só ganha de mim, aqui no Brasil, Jesus Cristo. Só”, disse ele. Em sua visão, tanto Jesus quanto ele, Lula, teriam sido injustamente condenados.
Qual é o perigo de confundir verdade com “narrativa?” Há uma célebre frase do ministro da propaganda na Alemanha nazista – Joseph Goebbels – que nos ajuda a entender os motivos: “Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. Minimizar a verdade, suprimir a verdade, esconder a verdade são estratégias políticas e religiosas malignas utilizadas no decorrer da história para manipular os fatos.
As afirmações recentes de Luiz Inácio surgem em um contexto pluralista e relativista que defende não existir verdade. Assim, a verdade deixa de ser o que é, como na definição socrática, e se torna o que dizemos ser ou mesmo o que desejamos que ela seja. Essa é a visão hegeliana, que sustenta a relativização de todas as coisas, para a qual não há absolutos e tudo depende do ponto de vista.
A questão, portanto, é mais que política. É filosófica e religiosa. Verdade é algo palpável, real, que pode ser averiguado. Verdade não é o que achamos ou afirmamos ser. Verdade é o que é. Nada pode ser mais demoníaco que relativizar a verdade. Jesus afirma que Ele é a verdade e que “o diabo é o pai da mentira”. Para ele, a verdade é objetiva, pode ser analisada, desmentida, denunciada. Para Jesus a verdade não é subjetiva, pois não depende do que queremos que ela seja.
Narrativa é a interpretação tendenciosa e maligna que os homens fazem dos fatos. Verdade é o que de fato aconteceu. Não se trata de uma interpretação, nem de uma distorção. Este é um dos grandes desafios filosóficos que temos em épocas de subjetivismo e relativismo tão pulsantes.