Por Ludhmila Hajjar
Como cardiologista e intensivista, meu primeiro encontro com Marisa foi marcado por uma troca infinita de experiências e relatos de pessoas que tiveram a música como grande aliada em situações críticas vividas em ambientes como a terapia intensiva.
Marisa idealizou como a arte poderia agir diretamente para reduzir o sofrimento das pessoas. Com o apoio de doadores, da instituição e de um forte grupo de voluntários, ela construiu um espaço de cultura e vivência artística no InCor, mudando a realidade de pacientes com doenças cardíacas ou pulmonares graves.
Esse ambiente lúdico proporciona alívio emocional e reduz o sofrimento de crianças e adultos que, muitas vezes, ficam internados por meses. O InCor é um hospital de 500 leitos de alta complexidade, onde não é infrequente a cena de uma criança ou adulto que permanece sem ver a luz do sol ou sentir o frescor do vento até que haja um desfecho de sua situação clínica.
O Espaço Imaginário Marisa Monte, situado no 5º andar do hospital, reproduz elementos da série de pinturas “Portas” da artista plástica carioca Marcela Cantuária, que assina o projeto visual do álbum Portas (2022) de Marisa Monte.
O ambiente possui uma biblioteca física e virtual com 3 mil títulos para adultos e crianças, além de tablets, computadores, instrumentos musicais e música ambiente. Em 10 meses de funcionamento, o Espaço Imaginário se tornou um refúgio acalentador para pacientes que tanto precisam.
A leitura, as aulas de música, os ensaios artísticos, as aulas de crochê e tricô, e as oficinas passaram a ser o alívio para aqueles que enfrentam desafios de saúde. Seja em momentos de dor ou em busca de paz interior, o espaço continua a ser um local onde a música e a emoção se encontram, promovendo a cura e a conexão humana.
Tornou-se um ambiente terapêutico, onde a dor pode ser expressada e a esperança renovada. Crianças de todas as idades, pacientes adultos e seus acompanhantes estão diariamente envolvidos em atividades culturais no espaço, ouvindo música que traz força, resiliência e esperança, essenciais para o bem-estar emocional dos pacientes.
Marisa também é embaixadora do programa USP Diversa, que tem como objetivo financiar bolsas de permanência estudantil para os alunos universitários por meio da doação de recursos de pessoas físicas e jurídicas. Suas palavras ressoam: “A inclusão é algo que, uma vez que acontece, ninguém tira de você. Reflete na sua vida inteira, não envelhece, só melhora, só cresce e vai influenciar gerações depois de você, inspirando as pessoas a acreditar que são capazes de viver essa experiência de ter acesso à educação de qualidade e a uma vida melhor”.
No próximo dia 24 de junho, um fato histórico marcará nossas vidas: a cerimônia para a outorga do título de Doutora “Honoris Causa” da USP para a artista Marisa Monte. Dentre 123 títulos concedidos, Marisa é a terceira mulher laureada. Este reconhecimento não apenas celebra sua extraordinária carreira, mas também destaca sua contribuição significativa para a cultura brasileira e mundial. A artista é conhecida por seu engajamento em projetos sociais e culturais.
Ela apoia iniciativas que promovem a educação musical e o acesso à cultura para comunidades carentes, mostrando que sua influência vai além dos palcos e gravações. Este reconhecimento serve como inspiração para todos os brasileiros, mostrando que a dedicação à arte e à educação aliada à ciência pode transformar vidas e comunidades.
Ludhmila Abrahão Hajjar é uma médica cardiologista brasileira e professora associada de cardiologia na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), tendo publicado diversos artigos durante a pandemia. É graduada em medicina pela Universidade de Brasília (UNB) e doutora pela Faculdade de Medicina da USP. Especializou-se em terapia intensiva e medicina de emergência, sendo diretora no Instituto do Coração (InCor), o mais reconhecido serviço de cardiologia da América Latina.
Duas musas fazendo diferença na vida das pessoas. Parabéns!!!