No Brasil, não existe uma política eficaz que ofereça atendimento humanitário para milhares de pessoas da chamada terceira idade, ou melhor idade, que, por diversos motivos, não convivem com suas respectivas famílias. São idosos que, após anos de trabalho e aposentadoria com vencimentos reduzidos, muitas vezes enfrentam dificuldades para manter seu sustento. O problema mais grave, no entanto, é o abandono em que muitos deles se encontram. Esquecidos (ou abandonados) por filhos, netos, noras, genros e outros parentes, vivem sozinhos, isolados e distantes da comunidade. Enfrentam severas carências materiais, sociais, psicoemocionais, de saúde e outros cuidados indispensáveis. São, por assim dizer, membros de uma população invisível.
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Esse cenário é semelhante ao que já se observa em outros países, onde, mesmo com recursos financeiros, os idosos vivem completamente isolados do mundo. Um relatório recente do Governo do Japão revelou que, das 37.227 pessoas encontradas mortas em casa, o maior grupo era de idosos com 85 anos ou mais (7.498), seguido por indivíduos de 75 a 79 anos (5.920) e pessoas entre 70 e 74 anos (5.635). Cerca de quatro mil corpos foram encontrados mais de um mês após a morte, e 130 passaram despercebidos por um ano inteiro. A TV japonesa NHK informou que a agência policial compartilhará suas conclusões com um grupo governamental dedicado a investigar mortes sem assistência.
O Japão, onde 30% da população já ultrapassou os 60 anos, enfrenta um problema crescente de isolamento entre os idosos. Estima-se que o número de pessoas dessa faixa etária vivendo sozinhas atinja 10,8 milhões até 2050. A previsão é de que o total de residências habitadas por uma única pessoa, independentemente da idade, chegue a 23,3 milhões no mesmo ano. Outros países vizinhos, como China e Coreia do Sul, também enfrentam desafios demográficos semelhantes. A população chinesa caiu pela primeira vez desde 1961, e a sul-coreana tem a menor taxa de fertilidade (número de filhos por mulher) do mundo.