A série de reportagens produzidas pelo colunista Lauro Jardim, do Jornal O Globo, na quarta-feira, 17, provocaram um verdadeiro tsunami político em Brasília. Informações obtidas através de delações do empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS e mais alguns executivos da organização, dão conta que o presidente Michel Temer (PMDB) foi flagrado em uma gravação, feita pelo próprio Joesley, incitando-o a manter a mesada concedida ao ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, para o mesmo manter-se calado.
Na gravação, que foi entregue ao ministro relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, o Presidente teria dito: ´Tem que manter isso, viu?´. Além disso, Temer ainda teria indicado o Deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver assuntos de interesse da J&F, a holding que controla a JBS, considerada a maior produtora mundial de proteína animal no Planeta. O parlamentar que teria sido indicado por Temer foi, posteriormente, filmado recebendo a quantia de R$ 500 mil, entregue pelo dono do JBS.
A mesma denúncia arrolou o Senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves. O parlamentar foi gravado pedindo uma ajuda de R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista. O dinheiro seria para pagar gastos de Aécio com a sua defesa na Operação Lava Jato. Só que, pelo que foi apurado pela Procuradoria Geral da República (PGR), o montante não foi entregue a nenhum advogado. A irmã do Senador, Andréa Neves, foi presa na manhã de quinta-feira, 18, supostamente por participação no esquema de propina. Aécio foi afastado do cargo de Senador. Sua possível prisão vai depender de uma decisão colegiada dos ministros do STF.
Repercussão
Na quinta-feira, 18, pela manhã, ao participar de um evento público na Praça Americano do Brasil, o Prefeito Roberto Naves (PTB) comentou os fatos ocorridos na noite anterior. ´A gente acompanha com muita tristeza´, disse, acrescentando que este é o momento de o País fazer uma pausa. Conforme ponderou, com os presidentes da Câmara Federal e do Senado, Rodrigo Maia (DEM) e Eunício Oliveira (PMDB) investigados; com as gravações envolvendo o presidente Temer o caminho leva à sucessão natural que seria a passagem da presidência à presidente do STF, ministra Carmen Lúcia. Para ele, uma pessoa com uma visão mais neutra seria essa pausa para que o Brasil possa ter novas eleições.
Roberto Naves avalia que, diante as denúncias, a situação de Michel Temer ficou insustentável. Além do que, observou que a crise tem paralisado o País e os municípios estão sofrendo bastante com isso, pois os recursos não chegam como deveriam, para atender as demandas da população. ´É preciso abrir um novo capítulo na história política do Brasil´, assinalou.
O Deputado Estadual Carlos Antônio, também em entrevista à imprensa, considerou ´lamentável´ o envolvimento do Senador Aécio Neves, o presidente nacional de seu partido, o PSDB, no suposto esquema de propina denunciado pelo dono da JBS. Ele não acredita, entretanto, em que pese a gravidade dos fatos, que o partido ououtros membros do partido que não tenham envolvimento em nenhum ato ilícitos, sejam ´manchados´. Segundo observou, se fosse assim, não sobraria ninguém, porque há membros de praticamente todos os partidos envolvidos em irregularidades que são investigadas hoje no País. O parlamentar diz que, se de fato as acusações forem comprovadas, o Senador deve ´pagar pelo que fez´. Diante da crise, Carlos Antônio acredita que o momento é de colocar na pauta a Proposta de Emenda Constitucional que prevê a unificação das eleições no País.
O Presidente da Câmara Municipal, Vereador Amilton Filho (SD), também avaliou a crise política nacional. ´Chegamos ao fundo do poço´, disse, acrescentando que estarrece ainda mais o fato de que, mesmo em plena carga da Operação Lava Jato, os atos de corrupção continuam. ´É deplorável´, reforçou. Na sua avaliação, a posição do Presidente Michel Temer é muito delicada e, por conta disso, o caminho, em sua opinião passaria, também, por uma nova eleição.
Pronunciamento do Presidente Michel Temer
´Olha, ao cumprimentá-los, eu quero fazer uma declaração à imprensa brasileira e uma declaração ao País. E, desde logo, ressalto que só falo agora – os fatos se deram ontem – porque eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações que me citam. Solicitei, aliás, oficialmente, ao Supremo Tribunal Federal, acesso a esses documentos. Mas até o presente momento não o consegui.
Quero deixar muito claro, dizendo que o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de retorno ao crescimento da economia e os dados de geração de empregos, criaram esperança de dias melhores. O otimismo retornava e as reformas avançavam, no Congresso Nacional. Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada.
Portanto, todo um imenso esforço de retirar o País de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do País. Houve, realmente, o relato de um empresário que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse. E, somente tive conhecimento desse fato, nessa conversa pedida pelo empresário.
Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação, não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome, na universidade, na vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos meus trabalhos. E nunca autorizei, por isso mesmo, que utilizassem o meu nome indevidamente.
E por isso quero registrar enfaticamente: a investigação pedida pelo Supremo Tribunal Federal será território, onde surgirão todas as explicações. E no Supremo, demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos.
Não renunciarei! Repito: não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida, para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Esta situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações e na solução respeitosamente a estas investigações.
Tanto esforço e dificuldades superadas, meu único compromisso, meus senhores e minhas senhoras, é com o Brasil. E é só este compromisso que me guiará.
Muito obrigado. Muito boa tarde a todos!´
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