Por enquanto, a situação está sob controle, no que diz respeito à oferta de água tratada na região urbana do Município. A incidência de generosas chuvas, nas últimas semanas, deu um fôlego ao angustiante problema, que dura mais de duas décadas, na incerteza da oferta eficaz de água potável. Um imbróglio que envolve os dois níveis de poder (Governo Estadual, via SANEAGO e Prefeitura) ainda não foi decifrado e não se sabe quando e como virão os recursos para o desenvolvimento de um audacioso plano de saneamento para Anápolis. No papel, o projeto, praticamente, garante que, ao final de sua execução, os anapolinos, mesmo com o crescimento populacional que fatalmente acontecerá, aliado ao desenvolvimento socioeconômico, não terão com o que se preocupar no que diz respeito a água e esgoto. O tratado garante que haverá abundância de água para 100 por cento da população nos próximos 30 anos e praticamente igual oferecimento de coleta e tratamento de esgotos.
Contra o tempo
Acontece que, o tempo não para de correr e, em que pese o otimismo que se verifica nos dois lados da conversa, não se bateu o martelo sobre o financiamento da obra. Assim sendo, o temor de que o problema se mantenha e, até mesmo, se amplie, não sai do imaginário da população. É que, nos últimos anos, assim que se aproximam os meses de junho e julho, as torneiras começam a apresentar um volume menor de água e em muitos casos, esse volume cai a zero. O pânico toma conta de donas de casa; comerciantes, industriais, enfim da população em geral. O desconforto e os prejuízos materiais causados pela falta de água são imensuráveis, notadamente do ponto de vista sociológico, No ano passado (2019) houve o agravamento da situação, pela falência de um importante manancial (Ribeirão Caldas) que fornece água para a Estação de Tratamento de Água para o Distrito Agro Industrial, mas que direcionava parte da produção para o abastecimento a cerca de 40 bairros. Assim, faltou água para as indústrias do Distrito e para milhares de residências e estabelecimentos econômicos em geral. Tem-se a promessa de que, para 2020, vai ser diminuída a quantidade de bairros assistidos pelo sistema DAIA, por conta da abertura de alguns poços artesianos na região Nordeste da Cidade, a fim de se alimentarem os reservatórios existentes e alguns a serem construídos. A dúvida é se estas construções serão efetivadas antes do período de estiagem.
Histórico
A distribuição de água tratada em Anápolis data da década de 50, quando o produto era retirado do Ribeirão Antas, através da represa na Chácara Fanstone, onde, hoje, existe o Central Park “Onofre Quinan”. A água era tratada na antiga estação localizada na Avenida Getulino Artiaga (popularmente conhecida por Caixa D’Água). O sistema, então, era administrado pela Prefeitura, através da SUMSAN (Superintendência Municipal de Saneamento). No início dos anos 70, ele foi repassado à SANEAGO, que detém o direito de sua exploração até os dias de hoje. E, com a exaustão do sistema antigo, Anápolis recebeu o maior projeto de saneamento de sua história, no Governo Henrique Santillo. Foi criado o Sistema Piancó, com a retirada da água do Ribeirão Piancó, na região fronteiriça ao Distrito de Interlândia e o seu bombeamento para a ETA (estação de tratamento de água) que, até hoje, funciona no Jardim das Américas I Etapa. Ao lado do sistema de água tratada, foi, também, renovada praticamente toda a rede de coleta de esgotos domésticos (inclusive, estendida para quase 80 por cento da região habitada da Cidade) e, de quebra, construída a atual ETE (estação de tratamento de esgotos) no Setor Recanto do Sol.
Soluções
A SANEAGO assegura que o novo projeto com a junção dos mananciais dos ribeirões Piancó, Capivari e Anicuns, será possível abastecer a Cidade que assim, não necessitaria de uma reservação maior, como a formação de uma grande represa. Sem contar que, em sua versão, a topografia e a bacia hidrográfica do Município não permitiriam tal represamento. Mas, há correntes que alegam, justamente, o contrário: enquanto a Cidade não tiver um grande reservatório como o “João Leite”, em Goiânia, não há o que se falar em autossuficiência de água. Em meio a essa discussão e à incerteza de quando é que o novo projeto será ativado, a preocupação dos moradores de Anápolis é uma só: vai faltar água, de novo, na próxima estiagem?E, tal preocupação afeta, diretamente, o setor empresarial. Hoje a SANEAGO não tem como expedir o AVTO (atestado de viabilidade técnico operacional) para a edificação de conjuntos, ou, condomínios, com mais de 20 unidades, exatamente, por falta de água. A única alternativa, segundo legislação própria, é que os interessados perfurem poços artesianos, doem toda a estrutura à empresa que, além de se apossar dele, ainda terá o direito de cobrar as tarifas de água e esgoto. Muitos não concordam. Há quem diga, também, que vários empreendimentos imobiliários em Anápolis, não tiveram sequenciamento lógico, justamente, pela incerteza da oferta de água.