É consenso entre a comunidade médica e, também, entre a população, o prejuízo que cerca de cinco mil substâncias tóxicas presentes em um único cigarro podem trazer à saúde. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), são mais de cinquenta tipos de doenças: várias formas de câncer (de pulmão, de boca, de esôfago, de laringe, entre outros), além de problemas cardíacos e respiratórios, úlceras e complicações na gravidez, tanto para a mãe, quanto para o bebê.
O que muitas pessoas desconhecem, e já foi comprovada por pesquisas realizadas inclusive no Brasil, é a tendência apresentada por viciados em nicotina de desenvolver perturbações psiquiátricas, como transtornos de ansiedade, depressão e, até mesmo, Síndrome do Pânico. O psicólogo e professor universitário, especialista em Psicologia Clínica, Nelson de Abreu Júnior, aponta que a Síndrome do Pânico aparece como subproduto de uma depressão mal curada. Caracterizada pelo medo constante da morte, a síndrome acelera os batimentos cardíacos do doente, provoca sensação de desmaio e perda do controle das próprias ações e pensamentos.
Quem decide parar de fumar, mas não procura uma orientação médica e não faz uso de medicamentos antidepressivos, está mais propenso a desenvolver a síndrome. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a nicotina não tem efeito calmante. Ela estimula o sistema nervoso, e, depois de instalada a dependência, pode gerar um quadro grave, caracterizado pelo distúrbio de ansiedade. Segundo o doutor Nelson de Abreu, a crise de abstinência, causada pelo corte dos efeitos da nicotina no cérebro e em todo o organismo, pode causar um alto grau de ansiedade e, até mesmo, um quadro depressivo que, se prolongado e não tratado corretamente, é capaz de gerar a síndrome dos tempos modernos, caracterizada pela torturante sensação de pânico.
É justamente nesse período que o uso de medicamentos deve ser empregado para minimizar os sintomas causados pela interrupção do fornecimento de nicotina ao organismo. O farmacêutico José Cássio Alves Pinto esclarece que existem remédios repositores de nicotina, como goma de mascar e adesivos, que não possuem as demais substâncias tóxicas presentes no cigarro e devem ser usados por cerca de três meses. Outra opção está nos medicamentos compostos por cloridrato de bupropiona que, segundo o farmacêutico, são eficientes em minimizar a ansiedade e até mesmo impedir que se instale um quadro depressivo, ou a Síndrome do Pânico, durante o período caracterizado pela abstinência. “Mas seja qual for o acompanhamento que o ex-fumante escolher, de nada adianta se ele não estiver mesmo decidido a largar o vício. O remédio é só um auxílio”, orienta José Cássio.
Mulheres têm fumado mais
Segundo dados divulgados no mês de maio pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) – órgão do Ministério da Saúde que executa ações de controle do tabagismo, no Brasil – nos últimos 20 anos, aumentou o número de fumantes do sexo feminino. Atualmente, quase dez milhões de brasileiras fumam. Ainda segundo a pesquisa, o tabagismo é mais frequente entre a população menos escolarizada e que possui menor renda (tendência estimulada pelo preço do maço de cigarros, no Brasil, considerado o sexto mais barato do mundo). O estudo do Inca indicou que as mulheres brasileiras gastam, em média, 12% do salário mínimo com a compra de cigarros.
O caso da empregada doméstica, Simone Oliveira da Silva, que começou a fumar aos 13 anos, ilustra bem os dados obtidos nos estudos sobre tabagismo, com uma vantagem: após passar por um susto, ela abandonou o cigarro. Hoje, aos 37 anos, Simone comemora os benefícios de ter se livrado do vício. “Eu gastava boa parte do meu salário consumindo quase dois maços de cigarro por dia. Comecei a fumar muito nova, por influência dos meus pais que sempre fumaram dentro de casa. Hoje eu tenho muito mais disposição”, revela a ex-fumante.
Há oito anos, Simone apresentou um caso grave de asma e foi parar no centro de terapia intensiva de um hospital, onde respirou com a ajuda de aparelhos durante oito dias. O risco de morte foi o responsável pela mudança de atitude repentina: ela largou o cigarro de uma só vez, mas não se esquece dos sintomas que seu organismo manifestou, principalmente nos dois primeiros meses, como ansiedade, insônia e dores de cabeça.
Para o doutor Nelson de Abreu, apesar dos incômodos iniciais, esse é o melhor meio de se livrar do vício: estabelecer uma data próxima e parar completamente. “Não dá pra parar de fumar em suaves prestações. A pessoa pode estar há cinco, dez anos sem cigarro, mas uma única tragada é suficiente para reativar o ciclo de dependência. A interrupção deve ser definitiva, para não se correr o risco de em uma única recaída reinstalar o sofrimento de quem fumou por muito tempo”, recomenda o especialista.
Não faltam razões para apagar o cigarro
Estatísticas revelam que os fumantes, em comparação a quem não fuma, apresentam risco:
– 10 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão;
– 5 vezes maior de sofrer infarto;
– 5 vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar;
– 2 vezes maior de sofrer derrame cerebral;
– se mulher, 10 vezes maior de sofrer derrame cerebral e infarto, ao associar o cigarro ao uso de anticoncepcionais.
As grávidas fumantes aumentam:
– em 200% o risco de ter um bebê com baixo peso;
– em 70% o risco de sofrer aborto espontâneo;
– em 40% o risco de o bebê nascer prematuro;
– em 30 % o risco de perder o bebê próximo ou depois do parto.
Fonte: Inca http://www.inca.gov.br/tabagismo/