Quem vê, hoje, a APAE Anápolis oferecendo tantos serviços, em quatro amplos espaços físicos, a pessoas com deficiência, atingindo um contingente de mais de 20 mil atendimentos por mês, certamente, não imagina como sua história começou.
Um dia, no final da década de 1960, ao fazer uso de uma medicação, Marcus Vinícius Calixto, filho de Munir Calixto (um empresário que atuava nos ramos de lojas de departamentos e imobiliário) teve como sequela a perda de sua audição. O preocupante acontecimento voltou a atenção de sua família para a necessidade da criação de uma instituição que pudesse prover cuidados para a pessoa com deficiência, uma vez que não existia nenhum trabalho nesse sentido em Anápolis. Preocupado com o futuro de seu filho e de tantas outras crianças e pessoas que poderiam, também, precisar de um serviço especializado para conquistarem um lugar no contexto social, Munir Calixto, que era um Rotariano ativo, reuniu representantes do empresariado, membros da maçonaria, instituições religiosas e do Rotary em uma mobilização para criar a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais na Cidade.
Oficialmente fundada em 06 de setembro de 1969, a APAE Anápolis teve Munir Calixto como seu fundador e primeiro presidente e, como membros de sua diretoria, nomes como Henrique Fanstone; Idilberto Gomes dos Santos; Antônio Caputo; Felipe Mattar; Paulo Gontijo; Wilton Sarmento; Luís de Lima; Ary Jacomossi; Mauá Cavalcante Sávio; Jamil Antônio; Aquiles de Pina Jr. e Padre Aloysio Catão Torquato, entre outros grandes nomes da sociedade anapolina.
Inicialmente, conseguir recursos para a implantação da escola especializada foi uma tarefa árdua, assumida pela diretoria e pela população, principalmente por quem precisava do apoio da entidade. Por isso, somente em março de 1970 a Escola Maria Montessori começou a funcionar, em três salas cedidas pela Igreja Presbiteriana de Anápolis, ainda com professores leigos.
Em junho do mesmo ano, a unidade educacional passou a contar com oito professoras e 43 alunos, motivo pelo qual foi preciso instalá-la em melhores acomodações. Sensibilizado, o Doutor Henrique Fanstone, então Diretor Presidente do Hospital Evangélico Goiano, cedeu um terreno na Rua Manoel D’Abadia, no centro da Cidade, para essa finalidade. Dois meses depois, a escola já funcionava em dez salas semiadaptadas, salões e playgrounds e com um maior número de funcionários. Em 1972, finalmente, a escola passou a funcionar em sua sede própria, na Avenida Contorno.
Avanços
No mês de novembro de 1994 foi inaugurado o Laboratório da APAE, com o eminente apoio do então ministro da Saúde, Doutor Henrique Santillo, com a finalidade de prevenir a deficiência intelectual no Estado de Goiás através da realização do Teste do Pezinho.
Em 1998 a Escola “Maria Montessori” passou a usufruir de novas e modernas instalações, localizadas no Setor Bougainville, e o Laborat. Hoje, o número de alunos atendidos pelos seus programas de cunho educacional e profissionalizante chega a 650 pessoas, entre crianças, jovens e adultos. O antigo prédio da escola, após uma completa reforma e adaptação, passou, então, a abrigar, definitivamente, o Laboratório da instituição.
A partir daí a APAE não parou mais de crescer. No ano de 2001, com a criação do Programa Nacional de Triagem Neonatal, surgiu o AME – Ambulatório Multidisciplinar Especializado – para atender, tratar e apoiar as crianças cujo Teste do Pezinho tenha diagnosticado alguma doença. Hoje, além desses usuários, o AME atende a todos os alunos da Escola “Maria Montessori”, pessoas com deficiência intelectual em graus e comprometimentos diferenciados, desenvolvendo suas capacidades por meio de um trabalho biopsicossocial.
Duas importantes conquistas foram alcançadas pelo trabalho desenvolvido no AME: o Parque Sensorial “Vandir Estácio Maia” e o Parque Aquático “Nancy Oliveira” que, respectivamente, levam o nome do ex-presidente que esteve à frente da APAE por dois mandatos e da ex-superintendente que atuou na instituição por mais de 30 anos.
De acordo com o Terapeuta Ocupacional da APAE, Marcos Zucchetti, um dos criadores do projeto do Parque Sensorial, os parques adaptados para terapia e lazer oportunizam experimentações lúdicas e sensoriais, visando promover o acesso adequado e os estímulos necessários ao desenvolvimento global da pessoa com deficiência. “Percebemos que não existia nada acessível para as crianças, nesse sentido, na Cidade. Não existem parques ou praças com brinquedos adaptados para elas. Daí surgiu essa iniciativa e, ver a alegria das crianças, em especial as cadeirantes, que não podem brincar nesses espaços em outros pontos da cidade, nos traz um sentimento de satisfação muito grande, justamente por poderem experimentar algo que não conseguem vivenciar cotidianamente”, comemora o profissional. Além desses benefícios, nos ambientes a equipe de profissionais especializados da instituição consegue trabalhar com a criança os sentimentos de frustração, medo, entre outras sensações ligadas à psicologia. “No entanto, isso só demonstra o quanto é vasto o alcance dos parques em relação às questões que a instituição oferece para tratamento”, explica Zucchetti.
Nancy Oliveira se considera apaeana de coração e militante por acreditar na causa defendida pela instituição. “Considero que a inclusão é ponto pacífico. Veio pra ficar e isso é um avanço. Hoje, as pessoas com deficiência ocupam espaços que antes se lhes eram negados. Não apenas o mercado de trabalho, mas o mundo universitário, além do atendimento especializado de saúde, que hoje também é oferecido pela rede pública. E, a APAE foi, como é, ativa incentivadora e mediadora desse processo”, avalia.
As conquistas da associação não param por aí! Em 2009 foi inaugurado o CRASA – Centro de Reabilitação e Atenção à Saúde Auditiva – que oferece às pessoas com deficiência auditiva de qualquer nível, todo o atendimento e acompanhamento fonoaudiológico necessários para que o paciente possa levar uma vida normal, incluindo o fornecimento de próteses. Tudo através do SUS, sem custo algum para os beneficiários, tendo mais de 1.800 atendimentos realizados por mês.
No mesmo prédio, também, funciona o Serviço Especializado em Reabilitação Intelectual, que aproveita as potencialidades da pessoa com deficiência intelectual, para promover sua integração à vida comunitária. São feitos, em média, 7.800 atendimentos mensais, abrangendo também os pacientes com autismo.
Credenciamento
Mais recentemente, no ano de 2013, a APAE Anápolis foi credenciada pelo Ministério da Saúde como CER-III – Centro Especializado em Reabilitação Auditiva, Intelectual e Física. Foi inaugurado, então, o Serviço Especializado em Reabilitação Física, que realiza cerca de dois mil atendimentos ao mês a pacientes com comprometimento da função física, oferecendo consultas médicas em fisiatria e neurologia, atendimentos de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, enfermagem, musicoterapia, nutrição, assistência social e equoterapia.
A associação, também, conta com um Departamento de Ensino e Pesquisa, o DEP, que promove e apoia eventos relacionados a ensino e pesquisa, incentiva a capacitação de profissionais e realiza atividades de extensão. Há mais de três anos tem uma importante parceria firmada com o CDI, Comitê para a Democratização da Informática, oferecendo cursos gratuitos na área de informática para a população em geral.
Para a atual superintendente, Alessandra Leão De Souza Constantino, a APAE zela pela transparência e luta em prol da garantia dos direitos da pessoa com deficiência, tendo como características sua força e credibilidade. “Mais do que as evidências de fatos; dados; ações; sentimentos; valores, filosofia e trabalho com a participação ativa de toda a sociedade, sempre com inúmeros novos desafios à frente”, pontua.
Até agora, 14 presidentes puderam dirigir e alcançar importantes conquistas para a Associação, somando esforços e fazendo com que a APAE chegasse tão longe. O advogado Hélio José Lopes foi o penúltimo, ocupando o cargo entre os anos de 2009 e 2013. Para ele, um dos pontos fortes do trabalho desenvolvido está no comprometimento da rede de colaboradores que sempre alcança os objetivos propostos. “São como engrenagens que nos ajudaram a mover essa grande locomotiva de amor ao próximo”, destaca.
Fato confirmado por Dona Rosana Silva, mãe da Ester, de oito anos, portadora de Síndrome de Down e aluna da entidade. “Há, apenas, um ano, fazemos uso dos serviços oferecidos pela APAE, mas parece fazer muito mais tempo, tamanho o acolhimento que recebemos. Somos valorizadas e tratadas dignamente. Na APAE a gente se sente gente de verdade”, relata Rosana que, também, participa do Clube de Mães, cujo objetivo é oferecer oficinas de artesanato para as mães dos alunos, mantendo, assim, um vínculo de proximidade entre elas e a instituição.
Sentimento que alcança o aluno Ednaldo Alves, 31, do Programa FIT – Formação Inicial para o Trabalho. “O que mais gosto na APAE é da maneira como sou ajudado pelos amigos que fiz aqui e também por poder ajudá-los”, constata o aluno, que também é membro do núcleo de dança da instituição.
Atualmente, a APAE Anápolis é uma das maiores instituições no setor em todo o Brasil, reconhecida internacionalmente, e quem dá continuidade esse trabalho, como presidente da instituição, é a professora e advogada Suelene Ribeiro. “Buscamos cumprir nossa missão enquanto instituição sem fins lucrativos e de caráter beneficente, prestando serviços nas áreas de Educação, Saúde e Assistência Social, com a participação da família, com o máximo compromisso social que podemos ofertar”, conclui a atual presidente, que objetiva alcançar ainda mais conquistas para a instituição, que exerce um insubstituível papel no contexto social, o que sempre foi uma marca da APAE. Conquistar.
Na última quinta-feira, 30, uma solenidade, que homenageou 45 personalidades que, de alguma forma, colaboraram ou colaboram com a realização dos trabalhos apaeanos, marcou a celebração dos 45 anos na instituição na Cidade. Entre os homenageados estiveram o diretor do Jornal Contexto, Vander Lúcio Barbosa, dentre outros membros do empresariado e organizações a níveis municipal, estadual e nacional.