Famoso pela confecção de peças em alumínio, ele afirma que a pandemia tem dizimado a categoria
Jerônimo Barbosa tem 67 anos, dos quais 43 dedicados à arte. O artesão, natural de Anápolis, conheceu o ofício em 1979, através do icônico José Loures, famoso por suas obras em pedra sabão e já falecido. Na época, se encantou com a matéria-prima e as técnicas de escultura, tornando-se muito amigo dele. “Loures foi um grande companheiro que me ensinou a base do que é ser um artista”, relembra.
Autodidata, o artesão viu seu talento crescer ao trabalhar com outros materiais em Anápolis. Com o mercado da cidade muito fechado na época, mudou-se para o Distrito Federal em busca de melhores condições. E lá encontrou. Dividia a rotina de artista com a de fotógrafo, no Jornal de Brasília. Passou a utilizar a prata boliviana como material. Mas, aos poucos, tornou-se conhecido pelos quadros de alumínio em baixo e em alto relevo, além de esculturas com ferro e cobre.
Sucesso
Certa vez fez amizade com o fiscal da feira da Torre de TV, que o colocou na lista de feirantes que podiam se estabelecer no local. Foi quando sua carreira decolou. Inspirado em obras como “A Santa Ceia” e “Dom Quixote”, passou a produzir muito. “Era fazer e vender”, declara. Jerônimo, que vivia de aluguel, comprou casa, carro, conseguiu emprego como professor de artes no Senai e virou celebridade entre empresários e políticos.
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Mas, mudanças na política da feira o fizeram desistir de expor no local. Morador do Novo Gama, na mesma época assistiu a uma escalada de violência e ficou com medo. Decepcionado, decidiu voltar para perto da família em Anápolis. Isso no final da década de 1990. “Quando cheguei aqui fui muito bem recebido e havia muitos eventos promovidos pelo Sebrae e pela prefeitura. O artista era valorizado e continuei mantendo meu padrão de vida, bastante motivado a levar adiante o meu trabalho”, conta.
Pandemia
Entretanto, com a chegada da pandemia, tudo mudou. Segundo Jerônimo, com a crise econômica gerada no governo Dilma, os negócios já não iam bem. Mas, o isolamento imposto à população e o agravamento da recessão praticamente impuseram um fim às atividades artísticas. “Eu havia acabado de construir meu ateliê, divulgando meu trabalho nas redes sociais. Estava muito animado e levei um choque ao ver minha receita zerar da noite para o dia”, explica.
O artista conta que tentou receber o auxílio da lei Aldir Blanc, que tem por finalidade ajudar a classe durante esse período, mas não conseguiu nenhum tipo de ajuda financeira. “Tentei, preenchi papelada, corri atrás, mas a burocracia é imensa. Os documentos vencem enquanto o processo está em andamento e fiquei andando em círculos até perceber que não daria em nada”, relata.
Jerônimo sabe que não é o único que está sofrendo com a atual realidade. Mas, para o artesão, a classe artística em Anápolis também é desunida. Talvez por estar bastante desanimada e decepcionada com a falta de reconhecimento da sociedade ou do poder público. “Isso agrava bastante porque a gente acaba ficando sem voz, o que inviabiliza nossa luta por direitos ou reivindicações de melhorias e incentivos. Falta organização, um sindicato talvez”, acrescenta.
Enquanto aguarda, na esperança de um futuro melhor, o artista luta para manter o ateliê aberto, mas reconhece que está quase impossível viver da arte. “Só sigo em frente porque tenho minha aposentadoria e alguns contatos em Brasília que ainda me rendem algumas vendas, mas meu sonho é que Anápolis retome as feiras e eventos que davam espaço para os artistas brilharem. Se não houver uma iniciativa pública forte nesse sentido, tanto o público quanto o artesão entram num ciclo vicioso que pode levar a arte à um estado vegetativo na cidade”, completa.
Tenho algumas obras do Jerônimo da época em que fazia exposição na torre de TV. Gostaria de entrar em contato com ele.