Algumas instituições estão acima da capacidade máxima, as outras estão com todas as vagas preenchidas
PRISCILA MARÇAL
A Rede de Instituições de Longa Permanência de Idosos, popularmente conhecidas como Asilos, está com sua lotação acima da capacidade. Das 308 vagas oficiais disponíveis na cidade, 316 estão ocupadas. Isso significa uma superlotação da rede que acende o alerta para a necessidade de ampliação do número de vagas.
O levantamento foi feito por esta reportagem entre os dias 25 e 28 de julho. Nós conversamos por telefone com as sete unidades de acolhimento de idosos da cidade. Duas delas estão com mais acolhidos que o total de vagas oficiais. São elas o “Abrigo Jesus Cristo é o Senhor”, localizado na região do Recanto do Sol, e o abrigo “Nossa Senhora de Guadalupe”, que fica na região do Daia.

A pesquisa foi motivada após uma das operações da delegacia do idoso em Anápolis, realizada no final de julho, que flagrou dezenas de situações de maus tratos e encaminhou quatro idosos para instituições de acolhimentos. Na época, o titular da Delegacia de Investigação de Crimes contra Idosos, Manoel Vanderic, afirmou que a operação escancarava dois problemas em Anápolis. O primeiro seria o grande número de idosos que sofrem agressões todos os dias na cidade. O segundo seria a superlotação dos abrigos da cidade.
A demanda por internações nessas instituições é grande, o problema é que ninguém sabe estimar quantos idosos aguardam por uma vaga para ser institucionalizado. O administrador geral do abrigo Nossa Senhora de Guadalupe, Frei José, disse que se abrir novas vagas na unidade, todas serão automaticamente ocupadas. “Este é um problema sério que nossa cidade enfrenta, mas é um problema silencioso, ninguém fala sobre o assunto. Nós ficamos isolados da sociedade e não recebemos a atenção que merecemos. É uma dificuldade enorme conseguir doações e investimentos. Precisamos de mais atenção”, explicou Frei José em tom de desabafo. Esta é outra das instituições tem que mais idosos que vagas de acolhimento. São 35 vagas oficiais, 36 idosos institucionalizados.
A situação é pior na instituição “Jesus Cristo é o Senhor”. Por lá são 30 vagas e 36 idosos abrigados. A gestora da unidade, Maria Helena, afirmou que tem um projeto de expansão. “Já temos a ideia, o projeto e até o local onde queremos construir um novo abrigo. Será no bairro Maracanã. Com essa nova unidade vamos expandir o número de vagas para acolher mais idosos. O problema é que não conseguimos financiamento”, relatou a gestora, com ar de sonhadora, mas com os pés firmes na dura realidade.
Crescimento da população idosa em Anápolis
A população idosa em Anápolis cresceu nos últimos anos, refletindo a tendência de envelhecimento populacional nacional. O último Censo do IBGE (2022) mostrou um aumento de 57,4% na população com 65 anos ou mais na cidade em um período de 12 anos, confirmando o envelhecimento e o aumento do número de idosos em Anápolis. Em 2012 eram 22.319 pessoas nesta faixa etária, agora são 37.825. E a tendência, segundo o IBGE, é que esse número continue aumentando nas próximas décadas.

É excelente saber que as pessoas estão vivendo mais. A questão é, estão vivendo melhor? Problemas econômicos, sociais e saúde tem resultado no abandono desta população idosa. Alguns dos idosos institucionalizados no final de julho aqui na cidade estavam vivendo sozinhos, sem respaldo familiar, doentes, desnutridos e com escaras na pele. Eles receberam os cuidados médicos necessários antes de serem enviados para os abrigos.
Responsabilização
O assunto levanta uma questão social. O delegado Manoel Vanderic afirmou que o problema da superlotação de instituições de acolhimento de idosos é de responsabilidade de todos. “O primeiro responsável é o familiar, que deve acolher em seu ceio aquele idoso que já não consegue viver sozinho. Acolher com responsabilidade, cuidando de todas as necessidades desse idoso: alimentação, saúde, moradia, atenção e amor”, pontuou o delegado que reconhece que nem sempre esse acolhimento familiar acontece.

O poder público vem a ser o segundo responsável pela população idosa, não só disponibilizando condições para que o terceiro setor acolha os casos mais graves, mas também realizando campanhas de conscientização para arrecadação financeira para o Fundo do Idoso, que financia essas instituições de acolhimento. “Os vereadores, deputados (estaduais e federais) da cidade também podem ajudar destinando as emendas parlamentares para essas instituições”, lembrou o delegado.
Ainda no quesito financiamento, entra a responsabilidade de toda a população. O Fundo do Idoso pode receber doações, especialmente no período de declaração do Imposto de Renda, quando o contribuinte pode escolher doar parte do seu imposto diretamente para o fundo. “O contribuinte não gasta nada com isso. Simplesmente o imposto iria para Brasília (e lá seria decidido onde seria investido), no lugar disso, o contribuinte decide que o valor será destinado diretamente para o Fundo do Idoso”, explicou o Vanderic.
“Eu poderia ressaltar, também, a importância da fé na construção de uma sociedade mais igualitária, cada fiel, cada igreja, pode contribuir com campanhas específicas. Mas é bom lembrar, e ressaltar, que a igreja já faz muita coisa”, destacou o delegado ao lembrar que todos os sete abrigos de acolhimento de idoso em Anápolis são mantidos por igrejas e instituições religiosas.
Instituições de acolhimento | Vagas disponíveis | Vagas ocupadas |
Monte Sinai | 34 | 34 |
Asilo São Vicente de Paulo | 55 | 55 |
Lar O Caminho | 50 | 50 |
Jesus Cristo é o Senhor | 30 | 38 |
Abrigo Prof. Nicephoro | 80 | 80 |
Abrigo N.S. de Guadalupe | 35 | 36 |
Bethânia | 24 | 23 |
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