A Associação das Escolas Particulares de Anápolis (Asepa), ingressou com um mandado de segurança junto à Vara das Fazendas Públicas na Comarca de Anápolis, solicitando o retorno das atividades presenciais nos estabelecimentos que trabalham com crianças de zero a cinco anos de idade (berçário e infantil).
O presidente da entidade, Emerson de Almeida Rodovalho Marques, em entrevista ao Portal CONTEXTO, nesta quinta-feira, 08/10, esclareceu que a medida foi tomada após várias tentativas de sensibilizar o poder público municipal para a possibilidade do retorno, dentro dos protocolos de segurança cabíveis. O alvo da demanda é o Município, porque o mesmo é o ente responsável pelo ensino na faixa etária em questão.
O presidente da Asepa pontuou que muitos pais já retomaram as suas atividades normais e não têm com quem deixar os filhos e, em algumas situações, acabam apelando até para locais de acolhimento “clandestinos”. Esse alerta, inclusive, está contido na peça apresentada ao Poder Judiciário local.
Emerson de Almeida destaca que o retorno é fundamental, não apenas do ponto de vista pedagógico, mas também psicológicos, pois as crianças estão passando por problemas emocionais que podem, até, “comprometer toda uma geração”, disse, acrescentando que, recentemente, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um manifesto nacional com um alerta neste sentido.
A mesma preocupação foi objeto de uma live recente que a entidade participou, com representantes da Sociedade Goiana de Pediatria. Neste e em outros encontros, outro ponto ressaltado foi a criação de protocolos específicos para as unidades de ensino que atuam nessa faixa etária (0 a 5 anos).
A Asepa contratou um infectologista para elaborar um protocolo e, conforme observa, além de todos os cuidados diante a pandemia, os estabelecimentos, em sua maioria, trabalham há anos com o publico infantil e é uma rotina, por exemplo, lidar com alunos com virose. Ou seja, há um histórico de preparação para agregar às medidas sanitárias de prevenção à Covid-19.
De acordo com Emerson de Almeida, o que a entidade está buscando, ao recorrer ao Judiciário, é preservar aquilo que está consagrado no Estado Democrático de Direito, no caso, o direito daquele pai que deseja levar o seu filho para a escola. “Vamos abrir para quem precisa”, frisa o presidente da Asepa, assegurando que a ação está muito bem fundamentada, não apenas no aspecto jurídico, mas, também, com depoimentos de país e com o alerta dos locais clandestinos.
O presidente da entidade observou que houve reuniões com o Prefeito Roberto Naves, no sentido de demonstrar os argumentos pró-retomada. Mas o mesmo se mostrou receoso com essa retomada. Considerando o apelo dos pais e a grave crise que o setor enfrenta, a Associação decidiu, então, apelar para o Judiciário.
Fechamento
Em relação a situação financeira das unidades, o presidente da Asepa teme que muitas empresas venham a fechar as portas no primeiro trimestre do ano que vem, em não havendo nenhuma mudança de rumo. Muitas unidades estão enfrentando o período agora com dificuldade, mas nenhuma delas prevê como será o comportamento dos pais em relação às matrículas. Se os pais resolverem esperar para ver o que vai acontecer, muitas escolas poderão começar o ano com insuficiência de caixa.
Vacina
Para o presidente da Asepa, ficar esperando pela vacina como uma espécie de “tábua de salvação” pode ser um erro, porque até a vacina ser aprovada, produzida e chegar até o município para a vacinação, vai ser um longo caminho ainda. E as empresas não podem esperar, sem ter de adotar medidas drásticas, como dispensar professores. “Empregamos muitas pessoas e elas precisam de nós para a sua sobrevivência, para ter dignidade e para levar comida para casa”, sublinhou Emerson de Almeida.
Retorno tem um viés fundamental: a socialização dos alunos, diz gestora
Juliana de Pina, gestora do Centro de Educação Infantil Acalanto e também integrante da Asepa, no cargo de secretária, relata que a expectativa da rede particular com o retorno das atividades é de muita ansiedade, mesmo porque falta pouco mais de dois meses para o encerramento do ano letivo.
“Esperamos um retorno com tranquilidade, segurança e apoio das famílias”, destaca, acrescentando que na parte de segurança, já foi apresentado um protocolo junto à Secretaria Municipal de Educação e na Vigilância Sanitária, trabalho desenvolvido “por um conceituado médico infectologista da cidade”, narra Juliana de Pina, observando que o referido protocolo busca a segurança de todos, principalmente, profissionais e alunos.
Questionada sobre a importância do retorno, mesmo faltando pouco tempo para o fim do ano letivo vigente, Juliana de Pina respondeu: “Voltar a rotina da escola é necessário para criança socializar, lembrando que criança aprende é com o par e não sozinho”.
Segundo ela, na educação infantil, do ponto de vista pedagógico, é a oportunidade de trabalhar os conteúdos, mas não apenas isso: “o importante na educação infantil é a socialização, a experiência e o lúdico vivido na escola. A educação infantil é o primeiro pilar para desenvolvimento da criança”, orienta.
Situação financeira
No tocante a situação financeira dos estabelecimentos, Juliana de Pina destacou que, de fato, a situação financeira “é bem delicada e preocupante” e, este ano, disse, “muitos CNPJs foram baixados outros estão ativos por não ter condições financeiras para darem baixa”.
Em razão dos cancelamentos de contratos e a inadimplência que não é pequena, observa, várias instituições que ainda permaneceram abertas tiveram que recorrer a empréstimos em bancos particulares ou do governo. Esses empréstimos são com prazo de 24 a 36 meses. Sendo assim, acredita ela, as instituições levarão pelo menos esse prazo para reerguer novamente.
Além disso, pondera que as escolas também foram obrigadas a investir em mídia para garantir aulas on line, consequentemente, na preparação dos profissionais para a nova forma de atuar na profissão.
Juliana de Pina alerta que, se as escolas não abrirem as portas ainda esse ano, no próximo ano, provavelmente, em torno de 30% poderão não conseguir retomar as atividades. Com isso, o número de profissionais que podem perder seus lugares no mercado de trabalho pode chegar, até, cerca de 3 mil. Isso, os que atuam diretamente nas unidades, fora pessoas e empresas que têm relação indireta com o segmento.