Até pouco tempo atrás, o Bullying era uma prática que costumávamos assistir em algumas produções de cinema e de TV norte-americanas. Do inglês para o português, a expressão bullying pode ser traduzida como: implicância, assédio, provocação. Há poucos dias, na internet, correu pelo mundo o vídeo em que um garoto que, depois de sofrer provocações e até agressões de colegas, virou o lado da moeda e passou, também, à condição de agressor. A cena choca porque, afinal, ela retrata uma realidade que está próxima de nós e pode estar acontecendo aos nossos filhos.
A professora Dalva de Souza Henrique, orientadora educacional do Colégio São Francisco, ressalta que a prática do Bullying é uma preocupação dos educadores e deve ser, também, dos pais. Segundo ela, somente o trabalho da escola não é suficiente para combater ou, melhor, evitar que aconteça. “O papel da família é fundamental”, frisa, acrescentando que as iniciativas devem ser conjuntas e, um ponto importante, é que o problema não tenha origem em casa. Ela explica que ainda faz parte da cultura do brasileiro, um pai, mãe ou responsável dizer ao filho que “se apanhar na escola, vai apanhar em casa”.
De acordo com Dalva de Souza os pais e as escolas devem assumir a responsabilidade em orientar os filhosalunos sobre esta questão. O problema, diz a educadora, é que em grande parte dos casos os estudantes que estão sendo intimidados e às vezes agredidos, não querem denunciar o fato e, muito menos, os agressores. Mas, pelo comportamento da criança ou do adolescente, é possível identificar uma possível vítima. Daí, procura-se saber as razões e conhecer os autores das intimidações, para que os mesmos, também, recebam a devida orientação para cortar o mal pela raiz.
A orientadora educacional relatou que, nos casos mais graves, é necessário até um acompanhamento especializado de psicólogos e psicopedagogos. “Nunca chegamos a ter um caso assim, mas sabemos que isso acontece e, por isso, devemos estar atentos para prevenir e educar os alunos sobre as consequências do Bullying”, enfatizou. O Colégio São Francisco, gerenciado por uma congregação religiosa, fez divulgar um boletim informativo perante os alunos e seus pais, tratando da questão.
Para Dalva de Souza, os pais e responsáveis devem ter um acompanhamento mais próximo da vida escolar dos filhos e, também, em relação ao acompanhamento de algumas atividades dos jovens que, segundo os especialistas no assunto, podem contribuir com uma personalidade agressiva, dentre essas atividades, os jogos eletrônicos com temas sobre violência e os sites de relacionamento da internet.
Pesquisa mostra realidade do Bullying no País
Uma pesquisa inédita no País, realizada no final de 2009 e divulgada em 2010, coordenada pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats) e a Fundação Instituto de Administração (FIA), com 5.168 alunos da 5ª. à 8ª. séries de escolas públicas e particulares de capitais e interior, nas cinco regiões brasileiras, apontou um quadro preocupante: Nada menos que 29% dos pesquisados afirmaram que já maltrataram um colega em ambiente escolar. Quase 70% dos alunos da amostragem afirmaram já ter presenciado a prática do bullying. E, 70,9% dos entrevistados responderam que nunca foram vítima de maus tratos. No entanto, 27,8% dos pesquisados já foram maltratados uma ou mais vezes. As maiores ocorrências de vítimas de Bullying foram registradas nas regiões Sudeste (15,5%) e Centro-Oeste (11,7%), vindo a seguir as demais regiões: Sul (8,4%), Norte (6,2%) e Nordeste (5,4%)
De acordo com os relatos dos alunos, feitos aos grupos envolvidos com a pesquisa, as causas do bullying e de outros comportamentos agressivos no ambiente escolar são, de maneira geral, as seguintes:
I) Emprego generalizado de apelidos e agressões verbais como formas de brincadeira. Os alunos relataram que, muitas vezes, uma situação violenta é consequência de uma brincadeira que sai do controle dos envolvidos. Afirmaram, ainda, que é muito difícil para eles estabelecer as diferenças e limites entre brincadeiras e agressões.
II) Dificuldades emocionais e de relacionamento interpessoal dos agressores. Para os alunos, a prática de bullying acontece, também, por que os agressores não conseguem lidar com seus problemas pessoais e mascaram sua fragilidade com manifestações agressivas de poder. Os alunos acreditam que, mais do que a vítima, o agressor revela problemas decorrentes de insegurança e exclusão e praticam as agressões como forma de driblá-los, a fim de que sejam aceitos e respeitados pelo grupo.
III) Necessidade de pertencer a um grupo e se ajustar a suas demandas. Os alunos acham que a diferenciação de grupos dentro do ambiente escolar (conhecidos como “panelinhas”) facilita o aparecimento de conflitos e comportamentos que expressam o desejo de conquistar popularidade e ser aceito.
Aramis Lopes dá palestra em Anápolis
O autor do livro ‘Diga não ao Bullying‘ e presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Aramis Antônio Lopes Neto, participa, no dia 7 de abril, em Anápolis, do Seminário Bullying: brincadeira sem graça, às 19 horas, no Auditório do SENAC.
Médico pediatra há mais de 20 anos, ele trabalha com crianças e adolescentes vítimas de maus tratos e violência doméstica. Desde 2001 começou a se interessar pelo tema, e a observar que a agressão entre crianças e adolescentes “era algo comum dentro da escola e, ao mesmo tempo, pouco falado na sociedade”.
Durante a palestra, promovida pela Fundação Frei João Batista Vogel e pela médica pediatra Gina Tronconi, Aramis Lopes Neto apresentará para educadores e pais, os sintomas das crianças vítimas de bullying e as consequências desta agressão para a vida adulta; enfoca o perfil dos agressores, denominado de bullies. “Não é normal sentir prazer em fazer mal às pessoas. O agressor deve sofrer isto na família ou passou por algum trauma”, esclarece.
Segundo o médico, muitas crianças se calam, têm vergonha de expor o sofrimento e, até, temem que o adulto minimize o seu problema. Ele orienta que os pais têm de entender que o sofrimento dos filhos é real, e é preciso ouvir e valorizar a criança. “É preciso quebrar a barreira da relação da família com a escola. Não se pode valorizar, apenas, as notas do boletim. Isto não é suficiente. A escola é local de convivência, de desenvolver habilidades sociais. Os pais devem perguntar aos filhos se eles têm amigos, se gostam do ambiente escolar”, orienta.
Outros temas que serão abordados, durante o Seminário são as situações de bullying, principalmente no ambiente escolar; as causas que levam a criança sofrer e a praticar; os prejuízos para a toda sociedade; formas de envolvimento do estudante, fatores de risco, medidas preventivas. (Letícia Jury)
Comportamentos típicos de jovens que sofrem bullying
Na Escola:
No recreio encontram-se isoladas do grupo, ou perto de alguns adultos que possam protegê-las; na sala de aula apresentam postura retraída, faltas frequentes às aulas, mostram- se comumente tristes, deprimidas ou aflitas; nos jogos ou atividades em grupo sempre são as últimas a serem escolhidas ou são excluídas; aos poucos vão se desinteressando das atividades e tarefas escolares; e, em casos mais dramáticos, apresentam hematomas, arranhões, cortes, roupas danificadas ou rasgadas.
Em Casa:
Frequentemente se queixam de dores de cabeça, enjoo, dor de estômago, tonturas, vômitos, perda de apetite, insônia. Todos esses sintomas tendem a ser mais intensos no período que antecede o horário de as vítimas irem para a escola. Mudanças frequentes e intensas de estado de humor, com explosões repentinas de irritação ou raiva. Geralmente elas não têm amigos ou, quando têm são bem poucos; existe uma escassez de telefonemas, e-mails, torpedos, convites para festas, passeios ou viagens com o grupo escolar. Passam a gastar mais dinheiro do que o habitual na cantina ou com a compra de objetos diversos com o intuito de presentear os outros. Apresentam diversas desculpas (inclusive doenças físicas) para faltar às aulas. (Fonte: Cartilha Bullying- Justiça nas Escolas, 2010 – Conselho Nacional de Justiça)