Prestes a completar seis décadas de vida, confesso a todos o meu assombro ao ver nos noticiários, pelos diversos canais de comunicação à nossa disposição, uma enxurrada de violências explícitas que invadem a minha casa, as nossas casas. Coisas que julgávamos ter entrado em processos de extinção voltam à baila: um exemplo chocante, a cena daquela mulher branca que açoitou um homem negro como se escravo ainda fosse, nos leva a uma reflexão tenebrosa sobre os rumos que estão sendo traçados para a humanidade, além de nos fazer questionar sobre o que estaria acontecendo com a mente das pessoas.
Observando aquela cena hedionda na qual essa mulher branca, provavelmente de classe média alta, residente em um bairro nobre da cidade do Rio de Janeiro, usa a coleira do seu cão para açoitar o homem negro, trabalhador autônomo no ramo de entregas por aplicativos, fica-nos a impressão de que naquele momento ela incorporou os espíritos dos feitores das fazendas dos Barões do Café. Com seus chicotes em punho, eles torturavam os corpos dos escravizados e deixavam feridas abertas e cicatrizes que nunca serão esquecidas. Nestes tempos de hoje, ao protagonizar aquela barbárie, a mulher de classe alta dominante açoitou covardemente a alma de todas as mulheres negras e homens negros do país.
Ao passarmos estes quatro últimos anos sob intensos discursos de ódio, fascismo, racismo, homofobia, xenofobia, que até então não eram tão escancarados como agora, pessoas consideradas normais e pacatas começaram a sair de seus porões do rancor, da amargura, da tortura interior em que sempre viveram, para demonstrar todo o mal existente em suas mentes doentias e retrógradas. Difícil imaginar aonde chegaremos. Cenas de racismo praticadas no interior de estabelecimentos comerciais, condomínios, clubes, nas ruas, passaram a fazer parte do nosso dia a dia com uma frequência assustadora.
Diante desse cenário, medidas coercitivas mais robustas terão que ser adotadas por nossas autoridades políticas e judiciárias sob o risco de voltarmos ao Brasil colonial.




