O crack é uma droga ilegal, obtida a partir da merla – uma variação da pasta de coca, subproduto do processamento das folhas de coca, para obtenção de cocaína. Na produção do crack, a merla é misturada ao bicarbonato de sódio e água. O que faz com que a mistura tenha um baixo ponto de fusão (passagem de sólido para líquido) e ebulição (uma forma de passagem de líquido para gasoso), tornando possível a queima da droga com o auxílio de cinzas, que são colocadas em um cachimbo, junto ao crack.
O uso do crack substituiu o de cocaína por via intravenosa – hoje quase extinto no Brasil – já que provoca efeito semelhante e é tão potente quanto a cocaína injetada. A forma de uso do crack foi o que mais favoreceu sua disseminação, já que não é necessário o uso de seringa – bastando apenas o cachimbo, que muitas vezes é improvisado em latas de refrigerante.
Em Anápolis, a realidade não é diferente. Segundo dados do Grupo especial de repressão a narcóticos – Genarc, nos últimos cinco anos, a droga ganhou tamanha proporção na cidade que hoje é mais consumida. Seu uso ultrapassa o da merla, cocaína e maconha. No ano de 2008, durante os meses de janeiro à maio, foram lavrados no Genarc 60 Termos Circunstanciais de Ocorrências, os chamados TCOs. A maioria dos usuários era composta por homens e tinha entre os 18 e os 24 anos.
Para a Dra. Pillar Vilalba, delegada titular do Genarc, a droga distribuída e consumida na cidade, vem da região do entorno de Brasília e de Goiânia. Entretanto, Anápolis é apenas um dos pontos de distribuição da droga, e não o destino final no caminho do tráfico. Fato que explica as pequenas quantidades de entorpecentes apreendidas durante as operações da polícia. Somente nos cinco primeiros meses desse ano, já foram realizadas pela Polícia Militar, aproximadamente, 10 operações de combate ao tráfico. Em que foram presos ou autuados traficantes, usuários e distribuidores.
O número de prisões em flagrante, registradas no Genarc, decorrentes das ações ostensivas já chega a 47. Foram feitas, ainda, 15 aprrenssões de maconha, quatro de cocaína e 28 de crack.
Flagrante
Na última terça-feira,9, a Polícia Militar prendeu Jean Fagner da Silva, de 21 anos, acusado de fornecer drogas na região de Anápolis. A prisão aconteceu depois que a polícia abordou outros dois suspeitos, José Januário Filho de Lima, também de 21 anos. E Adriano Feranndes de Oliveira, de 20 anos de idade.
Segundo Tenente Edmar, assessor de comunicação do 4º Batalhão, José e Adriano foram avistados em atitude suspeita na região do Parque Brasília. Ao avistar a polícia eles fugiram em uma moto, até a Vila Jaiara. Depois de perseguidos e presos, os dois alegaram ter comprado a pedra de crack que carregavam de Jean Fagner.
Com a ajuda dos dois, a PM chegou até a casa de Jean, onde foram encontrados joias, relógios, celulares e eletrodomésticos. O que, segundo o Tenente Edmar, eram possíveis pordutos de pequenos furtos usados como pagamento da droga. Além de 206 reias em notas pequenas.
Jean Fagner alegou que vendia drogas porque precisava do dinheiro para sustentar a mulher, que está grávida. Ele já tem passagem pela polícia por roubo a mão armada. E foi encaminhado para o presídio municipal onde aguardará julgamento.
A mulher de Jean, Lidiane Gomes da Silva, disse que o marido é inocente, da acusação de roubo. Segundo ela, ele estava no carro com os amigos que praticaram o assalto, quando aconteceu um acidente. E por essa razão, Jean teria sido preso no hospital para onde foi encaminhado. Lidiane disse, também, que não tinha conhecimento das ações de fornecimento de drogas que o companheiro realizava.
Efeitos sociais devastadores
O uso do crack – e sua grande dependência – frequentemente leva o usuário à prática de pequenos delitos, para obter a droga. Os pequenos furtos de dinheiro e objetos, sobretudo eletrodomésticos, muitas vezes começam em casa. O dependente dificilmente consegue manter uma rotina de trabalho ou de estudos, e passa a viver basicamente em busca da droga, não medindo esforços para consegui-la.
Estudos relacionam a entrada do crack como droga circulante, na cidade de São Paulo, ao aumento da criminalidade e da prostituição entre os jovens, com o fim de financiar o vício. Na periferia da maior cidade da América Latina, jovens prostitutas viciadas em crack são o nicho de maior crescimento da AIDS no Brasil.
Para a delegada titular do Genarc, Pillar Vilalba, um dos grandes problemas enfrentados hoje é a desestruturação familiar. Segundo ela, 90% dos jovens que cometem atos infracionais vem de famílias sem estrutura. O que torna essas crianças e adolescentes mais suscepitiveis à ação dos aliciadores e distribuidores de drogas.
O efeito social do uso do crack é o mais devastador, entre os entorpecentes e substâncias químicas normalmente encontrados no Brasil. Além disso, os efeitos da droga no organismo podem ser irreversíveis. A dependência também se reflete em ausência de hábitos básicos de higiene e cuidados com a aparência.
Perigo para a saúde
Intoxicação pelo metal
O usuário aquece a lata de refrigerante para inalar o crack e além do vapor da droga, ele aspira alumínio – que se desprende com facilidade da lata aquecida. O metal se espalha pela corrente sanguínea e provoca danos ao cérebro, aos pulmões, rins e ossos.
Fome e sono
O organismo passa a funcionar em função da droga. O dependente quase não come ou dorme. Ocorre um processo rápido de emagrecimento – os casos de desnutrição são comuns.
Pulmões
A fumaça do crack gera lesão nos pulmões, levando a disfunções. Como já há um processo de emagrecimento, os dependentes ficam vulneráveis a doenças como pneumonia e tuberculose. Também há evidências de que o crack causa problemas respiratórios agudos, incluindo tosse, falta de ar e dores fortes no peito.
Coração