Projeto Resgate. O nome desta iniciativa revela seu sentido: acolher crianças e adolescentes que se encontram em grupos de risco. Sua atuação se concentra na região dos bairros Filostro Machado, Jardim Primavera e demais setores próximos. As idades dos beneficiados por esta iniciativa, uma parceria entre instituições de Anápolis, incluindo a Igreja Presbiteriana Central, varia de, aproximadamente, 5 a 16 anos. Essas crianças participam de atividades diversas no período em que não estão em sala de aula.
Na quarta-feira, 17, eles passaram o dia no Acampamento El Rancho, localizado em Corumbá de Goiás, uma propriedade da Igreja Presbiteriana. Em várias atividades, coordenadas por voluntários, crianças integrantes do Projeto, localizado no Filostro, em Anápolis, puderam participar de brincadeiras e esportes. Um lanche e refeições foram oferecidos a eles.
A alegria entre os participantes era clara. Todos demonstravam tanto seu amor pelo Projeto Resgate, quanto a gratidão pelo dia que passaram. Ana Vitória de Sousa Rodrigues, juntamente com sua amiga Giovana Silva Martins, participou do dia no El Rancho. Elas gostaram, muito, da programação. Ana Vitória elogia “as professoras” do Projeto Resgate: “elas são legais”.
Interação positiva
A menina conta que gosta de “brincar e estudar” e que, um dia, ainda vai ser dentista. “Porque eu vou arrumar os dentes dos outros”, revela. Sobre sua rotina no Projeto Resgate, dentro do qual passa todas as manhãs, antes de ir para a escola, a pequena explica: “Eu chego; troco de roupa; participo da devocional; tomo café da manhã; vou para a sala; oro; leio os combinados; estudo um pouco; vou para o recreio; tomo banho; vou almoçar, vou para a sala e vou para a escola”. Ela ainda se diz “amiga de todo mundo”.
Sua amiga Giovana Silva Martins destaca que o Resgate é “tudo de bom”. E diz que aprende a “falar a verdade, não bater nos colegas, não xingar”. Durante o percurso de ônibus de Anápolis até o acampamento El Rancho, ela mostrava a expectativa do dia que passaria no local e parecia já saber o que faria por lá: “Brincar e pular”.
Ao longo de toda a jornada, além do lazer e da alimentação, uma apresentação de teatro foi feita no chamado ‘átrio’, uma espécie de auditório, em que as crianças se reuniram. Em cena, a história de uma criança muito desobediente à sua mãe e que tinha por hábito machucar o coração dos seus colegas. Ao longo do enredo, ela aprende a mudar de atitude.
As crianças assistiram a tudo sem tirar os olhos do palco montado para a peça. A alegria dos momentos passados no El Rancho foi, para muitos dos participantes, uma oportunidade de lazer que muitas das vezes eles não têm em seu bairro. Cada uma possui uma história diferente, várias delas relacionadas a famílias divididas; e vida dentro de bairros com problemas sociais graves, como o tráfico de drogas, a pobreza e a insegurança.
Projeto
O ‘Resgate’ beneficia a 166 meninos e meninas, entre adolescentes e crianças. De acordo com a coordenadora, Márcia Bueno, bairros como a Vila Feliz; Santo Expedito; Jardim Primavera e Filostro são beneficiados por esta iniciativa. No período da manhã, a idade dos participantes varia de 6 a 10 anos, ou do 1º; ao 5º; anos do ensino fundamental. Eles têm acesso a reforço escolar. No local é oferecido o café da manhã, banho, transporte para a escola em que estudam no período da tarde e devocional com ensino religioso.
No período da tarde, as atividades são voltadas para quem tem entre 10 e 16 anos. Reforço escolar; lanche; devocional; trabalhos manuais, culinária e, esporte estão entre o que é oferecido para os meninos e meninas desta faixa etária. A coordenadora Márcia Bueno relata que alguns beneficiados pelo Projeto Resgate vivem nas suas casas em situação de pobreza e convivem com violência e uso de drogas por pessoas próximas. “Se não é Deus, a gente não dá conta”, confessa.
Para ela, se não fosse o Projeto Resgate, “a situação estaria bem pior”. “Muitos não teriam educação necessária, não teriam um banho, não teriam talvez nem a saúde que tem, nem o acompanhamento escolar, o alimento”, pontua. Além das atividades escolares, uma parceria com o Hospital Evangélico Goiano permite o atendimento médico dos adolescentes e crianças.
“Alguém tem que quebrar esta corrente”
O relato da diretora do Projeto Resgate, Lisbeth Wilding Meili, revela a importância desta iniciativa para crianças e adolescentes que moram na região do Filostro e bairros próximos. Além do trabalho com os integrantes do projeto, as famílias recebem apoio por meio da doação de cestas básicas, remédios; e suporte nas áreas da saúde e jurídica. “Tem todo tipo de história”, explicita sobre a trajetória de cada um dos que passam pela instituição.
O Projeto Resgate faz parte de uma iniciativa maior, a União Evangélica Missionária Infantil, que, há 30 anos, começou um trabalho social na região, com as chamadas ‘casas lares’. Famílias que se decidiam por adotar crianças carentes da localidade abrigavam-nas em suas residências, dando a elas um lar. Lisbeth explica que eram as chamadas “famílias substitutas” que acolhiam meninos e meninas totalmente desamparados.
O Projeto resgate fica próximo ao local em que existia o antigo lixão e onde foi construído o Conjunto “Filostro Machado”. De acordo com a diretora Lisbeth, quando este bairro foi edificado e inaugurado, na década de 90, “a Cidade foi chegando, foi chegando. E, de repente, a Cidade estava na nossa porta, com uma carência louca”. Foi, então, que o processo que levou à criação do Projeto Resgate começou, com ações em prol da comunidade local. Atividades de ensino cristão e um trabalho com as famílias foram ampliados neste período.
Realidade difícil
A maioria dos participantes do Projeto Resgate estuda na Escola Municipal Betesda. A realidade, ainda, é dura para muitas crianças que participam da iniciativa. Mas, o projeto tem levado alívio e esperança aos integrantes desta família que foi criada ao redor da iniciativa. Lisbeth ressalta parceiros importantes, como o Hospital Evangélico Goiano, “maior bênção na nossa vida”, e a Igreja Presbiteriana de Anápolis. Ela enfatiza a importância da prática dos ensinamentos cristãos.
“Você faz uma escola dominical, fala que Deus ama, que Deus cuida, você tem tudo e eles não têm nada?”, ressalta sobre a relevância de sair da teoria e partir para a prática de apoio aos necessitados. E por que apoiar estas crianças e adolescentes? “Porque Deus ama os meninos”, responde.
Ela ainda se mostra esperançosa sobre o futuro dos integrantes do Projeto Resgate: “Porque Deus muda. Ele muda (a vida desses meninos e meninas). Essa miséria é uma corrente. É uma coisa de comportamento repetitivo. A menina com 14 anos está grávida porque ela viu a mãe grávida. O menino com 15, 16 anos está traficando porque o pai dele é traficante. E quando você corta esta corrente, começa uma coisa nova”.
“Alguém tem que quebrar essa corrente”, continua. E aborda a necessidade de mais pessoas se envolverem neste tipo de iniciativa. “Deus ama esses meninos e fala: eu preciso de um braço, de uma perna, de uma boca para ir lá acudir a este povo”, diz. Ela relata, feliz, que a maioria dos que passaram pelo Resgate encontrou um rumo, um caminho para a vida profissional e afetiva. “A maioria está trabalhando”, conta. O Projeto Resgate sobrevive graças a doações da comunidade.