Artigo por Samuel Vieira – Reverendo
Pode parecer estranho, mas muitos se sentem culpados por tirar férias e descansar. Esse sentimento é mais comum do que parece e provavelmente, você já teve esta sensação. Conheci um homem que se gabava de ter trabalhado 27 anos sem tirar férias. Para ele, era motivo de orgulho, quando, na verdade, deveria ser razão para preocupação.
Sentir-se culpado por estar de férias ou não fazer nada pode estar relacionado à cultura e ao ambiente familiar. Muitas famílias possuem uma cultura rigorosa de trabalho e isso se torna emocionalmente pesado.
A culpa também pode ser influenciada pelo modelo econômico. Conceitos como competição, produtividade e sucesso podem nos levar a pensar que apenas as atividades produtivas e lucrativas são importantes. Em um ambiente de cobrança, entretenimento, lazer e tempo livre são profundamente criticados.
Três justificativas são essenciais para descansarmos sem culpa:
A primeira é de ordem biológica: o corpo não é uma máquina. Precisa de pausa. O motor precisa desaquecer, esfriar. O trabalho constante e excessivo, aliado à ausência de descanso, é prejudicial para a saúde física e emocional. Sem descanso, ocorre uma diminuição da memória, dificuldade de absorção de novas informações, irritabilidade, ansiedade e estresse, além da perda de foco, insônia entre outros.
A segunda é de ordem prática: o ócio tem o poder de redirecionar, inspirar e reorientar. Quando não descansamos o suficiente, o resultado é a diminuição da produtividade. Por mais estranho que pareça, o ócio é produtivo. Quando relaxamos, a mente faz brotar novas ideias. Portanto, descansar, indiretamente, também é ser produtivo. O tempo de descanso e relaxamento restaura a atenção e a motivação, estimula a produtividade e a criatividade e é essencial para atingirmos altos níveis de desempenho.
Por último, há o fator de ordem teológica. No projeto da criação divina, relatado no livro de Gênesis, Deus não concluiu sua obra com a criação do homem, mas com o sábado. Deus fez um tempo para que o homem pudesse descansar. No hebraico, “shabath” significa “descanso”. Deus orientou o ser humano para um tempo de interrupção de suas atividades e Ele mesmo deu o exemplo ao descansar no sétimo dia.
Será que Deus estava preocupado consigo mesmo? Será que Ele tinha excesso de horas extras? Naturalmente não. Seu objetivo era dar exemplo para que entendêssemos que precisamos aprender a descansar, a tirar tempo para repor as forças físicas, para repensar as atividades.
Quando não descansamos é porque intimamente sofremos um complexo de onipotência e achamos que somos mais imprescindíveis que Deus. No entanto, é bom lembrar que o cemitério está cheio de gente insubstituível. Guardar o dia de sábado é reconhecer que temos direito ao descanso. É perceber-se como um ser livre para viver. Quem trabalha sem descanso é escravo! Todos têm direito ao descanso.