Médico foi colocado em liberdade cinco dias após ter sido preso, acusado de crimes sexuais contra pacientes em Anápolis
O advogado Carlos Eduardo Martins, responsável pela defesa do médico Nicodemos Júnior Estanislau Morais, disse, em entrevista ao CONTEXTO, que ainda não recebeu a intimação judicial do recurso interposto pelo Ministério Público contra a decisão da Justiça de soltar o ginecologista.
“Estamos aguardando que esse rito processual se cumpra para que possamos apresentar nossas contrarrazões. Estamos confiantes de que o juiz vai manter Nicodemos em liberdade”, disse Martins. Nicodemos Júnior foi preso preventivamente em 29 de setembro, depois que três pacientes procuraram a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) para formalizar denúncias.
O médico, que é investigado por importunação sexual, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável foi solto cinco dias depois pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Anápolis, Adriano Linhares.
Na ocasião, a defesa negou que o médico tenha cometido qualquer prática sexual com as mulheres que já atendeu e destacou que Nicodemos é um ginecologista e que todos os exames e toques em pacientes realizados dentro do consultório tiveram fins de diagnóstico, sem nenhum teor sexual.
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“O juiz entendeu que ele não preenche os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal, que ele não vai atrapalhar as investigações, que ele tem residência fixa, que ele é réu primário”, disse o advogado.
Até agora a Polícia Civil confirmou que 53 mulheres já denunciaram o ginecologista. São 52 de violação sexual mediante fraude e uma de estupro de vulnerável, referente à uma jovem que tinha 12 anos de idade na época. Responsável pela investigação que resultou na força-tarefa que prendeu Nicodemos, a delegada Isabella Joy informou que pretende remeter ao Poder Judiciário pelo menos dez inquéritos concluídos de vítimas do médico. Outras duas dezenas ainda estão em investigação na Deam.
Modo de ação
Pacientes revelaram à polícia conversas que tiveram com o médico em redes sociais e no consultório onde atendia. Segundo elas, muitas tinham cunho sexual, como “transar fortalece amizade” ou “faz o bronzeamento e me mostra”.
A delegada Isabella Joy, responsável pela investigação, afirmou que há relatos de mulheres abusadas, inclusive, quando adolescentes. Segundo ela, os crimes aconteciam durante as consultas. Há registros, por exemplo, de mulheres que o médico tentou agarrar e beijar. “Temos diversos relatos de vítimas sobre o modo de ação dele, que tentou agarrar, beijar, fez que tocassem nos órgãos genitais dele, que abusou durante o parto, que sofreram depressão pós-parto por causa disso”, descreveu Isabella.
Explicações
Segundo a polícia, o médico já foi indiciado por crime sexual no Distrito Federal, em 2019. Mas, como era réu primário, ele não foi preso. Ainda de acordo com a corporação, o médico também foi denunciado no Paraná, mas o caso foi arquivado em 2018. Logo depois de ser posto em liberdade, em entrevista à TV Anhanguera, o médico, de 41 anos, também negou que cometeu os abusos.
Sobre os comentários que fez à pacientes, Nicodemos disse que eram “brincadeiras” e, sobre isso, admitiu que pode ter errado. “É muito complexo. Eu brinco com algumas coisas às vezes. Nisso, eu pequei, realmente. Mas, nunca, em nenhum momento, eu toquei em uma paciente com objetivo de ter prazer sexual ou de fazer com que ela tivesse um prazer sexual, porque o objetivo ali é o exame físico”, disse.
Quanto as mensagens trocadas com pacientes, o ginecologista admitiu que pode ter feito alguma “brincadeira” de “forma inadequada”. “Muitas vezes, elas falam, ‘olha, doutor, eu fiz alguma coisa assim, será que vai acontecer alguma coisa?’. Um erro meu, concordo. Brinco no WhatsApp, comento alguma coisa de uma forma inadequada. Concordo que nisso eu estou errado”, admitiu.
Nicodemos afirmou ainda que são poucos os médicos habilitados para trabalhar com a sexualidade. “Eu tenho essa formação e, ao colocar em prática no consultório, posso ter sido mal interpretado”, concluiu.