O MISTÉRIO DA CULTURA
Em 20 anos, Anápolis recebeu apenas R$ 2,7 milhões por meio de convênios com o Ministério da Cultura
Em uma semana de governo, o presidente em exercício, Michel Temer, tenta reduzir gastos, ganhar confiança do investidor estrangeiro e mostrar para todos que está disposto a tentar arrumar a casa. Fala-se de uma dívida superior a R$ 200 bilhões herdada pelo peemedebista…
Mas a decisão que mais provocou falatório, até o momento, foi a extinção do Ministério da Cultura, que voltou a fazer parte do Ministério da Educação. Uns dizem que é preciso apertar os cintos por conta dos tempos nebulosos que estamos atravessando. Outros sustentam que a cultura gera emprego e renda e, por isso mesmo, deve permanecer recebendo todo o apoio do suado dinheiro do pagador de impostos.
A discussão é longa, com gente de peso de ambos os lados. Mas, e a nossa cidade de Anápolis? Onde fica nesse debate?
Bom, se fôssemos considerar os repasses do Ministério da Cultura para cá desde 1996, ficaríamos um tanto quanto desapontados com a pasta das artes. Em duas décadas, Anápolis recebeu apenas R$ 2,7 milhões por meio de convênios com esse ministério.
Sim, é isso mesmo: apenas R$ 2,7 milhões em 20 anos. O valor chega a ser mais decepcionante quando temos a ciência de que artistas famosos receberam quantias muito superiores em apenas um ano.
O tema do financiamento da cultura sempre foi delicado. Ao se financiar a expressão artística, há algum prejuízo do instrumento mais valioso da arte: a liberdade. Mas também não sejamos utópicos para acreditar que há alguma manifestação artística 100% livre.
Ao longo dos séculos, artistas foram financiados e criaram obras eternas. Seja pela Igreja, pelos mecenas, pelo Estado. Mas hoje, artistas podem substituir esse modelo de financiamento e tomar as rédeas do seu trabalho para que sejam sustentáveis. Por que não deixar que empreendam, com maior vigor, por meio de sua arte; que busquem mercado para o que produzem nessa competição global por público; que despertem o interesse de milhões de pessoas pelo mundo?
Um dos meus discos favoritos se chama “Beatles for Sale” (Beatles à venda). Um grupo inglês, prático, lapidado por um empresário e um maestro clássico, que fez magia em forma de música para vender muito. E como conseguiram… Há algo de errado nisso?