Estudo realizado pelo Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação do Instituto Jô Clemente compara o desenvolvimento de alunos com deficiência em salas de aula comuns com estudantes matriculados em escolas especiais
Uma pesquisa realizada pelo CEPI – Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação do Instituto Jô Clemente (antiga Apae de São Paulo), revela que crianças e adolescentes que frequentam as salas de aula comuns apresentam ganhos consideráveis em aspectos como identidade, autonomia, comunicação, linguagem, expressão, relacionamento interpessoal e aprendizagem.
“Esses alunos demonstram e expressam seus desejos e maior interesse pelas atividades propostas, mostrando-se questionadores em alguns momentos das aulas. Em relação à independência, eles são capazes de se locomover pelas dependências das escolas, dirigindo-se ao banheiro, bebedouro, refeitório, servindo-se e alimentando-se adequadamente nos horários de recreio”, destaca Roseli Olher, autora do estudo e supervisora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) do Instituto Jô Clemente.
Análise do desenvolvimento
Segundo ela, no que diz respeito à comunicação e expressão, a maioria consegue transmitir suas ideias e se fazer entender por meio de gestos ou imagens, mesmo quando ainda não há comunicação oral.
A pesquisa contemplou ainda a análise do desenvolvimento de crianças e adolescentes matriculados em escolas especiais.
Nesses casos, a pesquisadora observa que o desenvolvimento não é o mesmo, infelizmente. Foram identificados poucos avanços quanto à autonomia, aprendizagem e comportamento social. Os alunos permaneceram com atitudes infantilizadas, comportamentos inadequados, dificuldades para enfrentar e resolver conflitos, vocabulário restrito e fora de contexto quando solicitados para exporem suas ideias e se fazerem entender perante os colegas e adultos, demonstrando pouco interesse e iniciativa frente às propostas apresentadas.
“Em relação à autonomia e independência, ainda necessitavam de um profissional para acompanhá-los pelas dependências da escola”, comenta Roseli.
Indignação
Com o cenário apresentado no estudo, o Instituto Jô Clemente está reforçando seu posicionamento a favor da inclusão de alunos com deficiência na escola regular comum, junto aos demais estudantes sem deficiência.
Em 1º de outubro de 2020, a Organização publicou em seu site uma nota em que se mostra indignado com o Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020, que “institui a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida”.
Para Roseli, a medida representa um retrocesso, uma vez que a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) garante o acesso de todas as pessoas com deficiência à educação regular comum. “Essa alteração pode ampliar a exclusão, a segregação. É importante que crianças e adolescentes com deficiência sejam incluídos na sociedade e tudo começa na infância, na idade escolar. Para quem tem algum atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ou uma deficiência intelectual, essa importância é ainda maior, porque sabemos que a socialização é fundamental no desenvolvimento, na aprendizagem e na conquista de autonomia”, diz.
Ganhos
“O que esse estudo que apresentamos nos mostra é que a educação inclusiva traz ganhos para os alunos com e sem deficiência. Quando falamos em deficiência intelectual, que é o foco de atuação do Instituto Jô Clemente, esses ganhos são relevantes porque são nesses casos que ainda encontramos as maiores barreiras sociais”, completa.
Mais informações podem ser obtidas pelo site: www.ijc.org.br