Por Henrique Morgantini, jornalista
Levantamento realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre o desempenho das fornecedoras energia elétrica de todo o país novamente volta a colocar a Enel numa posição de constrangimento junto ao consumidor. Os dados mostram um profundo aumento no tempo de desabastecimento de fornecimento de energia elétrica e aumento no tempo de espera pelo retorno do serviço nas casas, empresas e indústrias dos goianos.
Em relação ao 2020, a Enel demora a retomar o serviço mais de 81% em comparação ao mesmo período de 2020. Dos nove meses de 2021, somente em três este índice apresentou melhora em relação ao ano anterior.
Nós, consumidores de Goiás, estamos ficando mais tempo no escuro.
Mas, para isto, não é preciso verificar planilhas ou ver cálculos técnicos da agencia reguladora nacional. Basta observarmos o nosso cotidiano. Se antes, até mesmo como anedota, os consumidores “previam” a interrupção da energia elétrica quando se aproximava uma tempestade, agora, até mesmo este parâmetro foi perdido já que num dia de sol, numa manhã comum, a energia pode simplesmente faltar e demorar a voltar.
A Enel vem batendo seus próprios recordes. Se em 2019 tinha índices, retirados das mesmas planilhas da Aneel, piores que a da sucateada, avacalhada, extorquida e extinta Celg, sendo a recordista nacional em reclamações oficiais junto a Aneel daquele ano, agora percebe-se que a Enel conseguiu piorar os próprios números. Piora o que já era bem ruim, segundo os números oficiais.
Assim como na vida, as reações sobre as adversidades têm o poder de amenizar ou piorar uma situação. Neste caso, a Comunicação Estratégica da empresa opta por um caminho muito ruim para dialogar com a população goiana. Ao anunciar um volume bilionário de investimentos, esfrega na cara do cidadão goiano valores estratosféricos como se isto fosse ser a desculpa para amenizar quaisquer questionamentos e insatisfações. A Enel divulgou justificativas afirmando que “ampliou o nível de investimento, atingindo R$ 1,48 bilhão”.
Ora, é claro que este valor soa absurdo para qualquer cidadão e para 99% das empresas de Goiás, mas o que isto significa em termos práticos? Nada. A divulgação destes valores tem somente o intuito de intimidar a crítica, como quem diz: olha o quanto de dinheiro que estou pondo e você ainda reclama?
Acontece que este não é um caso de valores financeiros, mas de valores subjetivos de qualidade de vida. Investir 500 reais ou um bilhão e não entregar o serviço, não conseguir atender ao cliente, pode ser sinal de dois caminhos: o valor de R$ 1,5 bilhão de reais é insuficiente e deveria ser majorado, ou que a empresa é incompetente não só em fornecer energia, mas também em investir corretamente, já que torrou 1,5 bilhão de reais na mesma velocidade em que torra geladeiras, TVs, micro-ondas e outros utensílios que queimam com a instabilidade da rede, e nada do serviço melhorar.
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Todo este cenário desagua na necessidade de se debater a política indiscriminada de privatizações e, sobretudo, de serviços estratégicos e fundamentais à vida, como a água e a energia elétrica. Se no papel o Estado possui a ferramenta das agências reguladoras no Estado e a própria Aneel em âmbito nacional, percebe-se, na prática, que estes órgãos são tão limitados quanto as vítimas do mau serviço prestado. Nós, os consumidores, nos igualamos às agências e pouco ou nada podemos fazer.
Este é um exemplo no presente para evitarmos que a Sanego, por exemplo, siga no mesmo caminho.
Dados da ONG holandesa Transnational Institute (TNI) apontam que entre os anos de 2000 e 2017, mais de 880 empresas foram reestatizadas nos EUA e em países europeus, através de processos que ganharam os tribunais internacionais. São empresas estatais de fornecimento de energia elétrica e de saneamento que, uma vez privatizadas, aumentaram exponencialmente os valores das tarifas e precarizaram seus serviços. A revolta chegou ao ponto de os negócios serem desfeitos na marra. Veja: a reestatização não aconteceu em ditaduras ou em republicas das bananas, mas em países centrais do capitalismo como a Alemanha e os Estados Unidos.
Os prejuízos que a Enel promove vão além da criança que não consegue jogar videogame ou de quem perde o futebol ou a novela. Os prejuízos financeiros do desabastecimento também vão além do presente, que mostram a devastação nos lucros dos produtores rurais, comprometendo a produção de leite, a criação de aves e outras atividades da Indústria, impactando no desenvolvimento Econômico de Goiás. Os prejuízos pela inoperância da Enel comprometem o futuro de Goiás e dos goianos, uma vez que impedem que novas plantas industriais e investimentos se instalem em Goiás por total insegurança energética para sua instalação e produção. Com isto, são menos riquezas, menos empregos, menos oportunidades.
É preciso rever este elefante no meio da sala chamado Enel. Porque, além de apagado, ele está à vontade demais para fazer o que bem entender.