Dados impressionantes mostram que mais de 40% das vítimas de violência no Brasil possuem idades inferiores a 12 anos
A morte do menino Henry Borel, de quatro anos, no Rio de Janeiro (RJ), chocou a opinião pública pela brutalidade. Nas principais redes, o assunto chegou a ficar entre os mais comentados e ultrapassou barreiras nacionais. Para além da revolta, o caso gerou um alerta em relação as agressões contra crianças, especialmente durante a pandemia, quando as famílias estão em isolamento social.
Diferente do que muitos pensam, casos de violência tão explícita contra menores não são exceções na nossa sociedade. Um documento, disponibilizado na última sexta-feira, 09/04, pelo banco de dados do Ministério da Saúde mostra que das 350 mil vítimas de violência no Brasil em 2019, 140 mil foram crianças e adolescentes de zero a 19 anos. E dentro deste contingente, 35 mil foram crianças abaixo dos 4 anos.
Conforme explica a psicoterapeuta e professora de habilidades socioemocionais, Rafaella Barbosa Oliveira, essa situação se agrava, justamente, pelos pais não darem a devida atenção ao que uma criança tem a dizer. “Não levem na brincadeira. Escutem! Percebam e fiquem atentos às mudanças no comportamento como baixo desempenho escolar, isolamento e irritação. Nem sempre as agressões deixam marcas no corpo, mas no comportamento, sempre há”, elucida.
Questionada, a especialista conta que em seu consultório as situações de abuso físico e psicológico estão presentes em 80% dos casos. “É preocupante e só mostra o quanto precisamos nos dedicar a esse cenário. Cada caso trás aspectos marcantes, principalmente quando advindas de pessoas que deveriam oferecer amor e proteção, mas não fazem”, declara.
Registros
Segundo um estudo publicado em 2018 por médicos da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), os tipos de agressões mais comuns em crianças e adolescentes no Brasil são negligência, maus tratos/espancamento, Síndrome de Münchausen por procuração, alienação parental, violência física e sexual.
Ainda de acordo com a pesquisa, nas situações de violência física, a autora mais frequente é a mãe, embora os casos mais graves sejam perpetrados pela figura paterna (pai ou padrasto). Nos abusos sexuais, os autores geralmente são homens, sendo cerca de 90% o pai ou companheiro da mãe.
Precauções

Para Vanessa Rebelo, mãe do João Gabriel, sete anos, e do pequeno Henrique, de dois, o diálogo é algo constante e os ensinamentos podem ser dados, inclusive, através de brincadeiras. “Nós só vamos ter conhecimento do que está acontecendo com nossos filhos quando escutarmos o que eles têm a dizer. Por isso, quando eles não querem falar muito, utilizamos de cartas e jogos, sentamos todos em uma roda e, dessa forma, compartilhamos o dia de cada um”, explica.
A psicóloga Rafaella Barbosa aplaude a ação. Segundo a especialista os pais e professores tem papel de grande valia na identificação de crianças que sofrem algum tipo de violência e precisam ser os primeiros a intervir.
“No caso da violência sexual, por exemplo, o desconforto de falar do assunto, que muito ocorre, é extremo. No entanto, de total necessidade. Os pais precisam explicar que não se pode deixar outras pessoas tocarem em suas partes íntimas ou praticarem comportamentos que machuquem ou que lhe causem dor. Caso os responsáveis ainda se sintam desconfortável, já existem músicas, desenhos e jogos educativos. De qualquer forma, o importante é fornecer o conhecimento”, salienta.