Os homens se parecem com seus deuses. O que o homem crê, de fato, determinará, em última instância, o que ele será e o que ele fará. Cosmovisão antecede e determina a ética. Chesterton afirma: “Quando o povo deixa de acreditar em Deus ele deixa de acreditar em tudo.” A mesma linha de pensamento é adotada pelo escritor russo Dostoiévski ao afirmar: Se Deus não existe, tudo é permitido”.
Para Dostoiévski, o ponto central é que, sem uma consciência universal nem parâmetros absolutos, por que alguém seria obrigado a fazer algo? Vale ler a frase completa dele: “Se Deus não existisse, os homens não teriam nenhuma obrigação de amar seu semelhante. Não haveria leis universais. Tudo seria relativo. Tudo seria um caos. Se Deus não existe, tudo seria permitido.” (Irmãos Karamazov, 1879)
Ora, se Deus não existe, não há cobrança final sobre seus atos e nem faz sentido dizer que algo é certo ou errado. Convicções orientam comportamentos e isso é porque o ser humano nada faz sem uma orientação interna. Antes de praticarmos a justiça ou a injustiça, estamos convencidos de que, por alguma razão, vale a pena agir segundo um ou outro critério.
No Cristianismo, o Deus justo exige uma resposta justa. Sua verdade é absoluta e sua justiça, uma realidade inegociável. Uma vez que toda ética é orientada por uma cosmovisão, a forma como o ser humano vê e compreende a realidade o leva a interpretar sua história a partir de um ponto de vista que o transcenda. Qualquer informação que falte propiciará um possível desvio da verdade.
Professor universitário e escritor, James W. Sire afirma que “comprometer-se com uma cosmovisão, na verdade, é um passo significativo na direção da autoconscientização, do autoconhecimento e do autoentendimento.” Já o autor brasileiro Ariano Suassuna, no artigo provocativo publicado pela Folha de São Paulo (28/9/99) e intitulado Dostoiévski e o Mal, fez a seguinte declaração: “…Até o dia em que, lendo Dostoiévski, encontrei uma frase de Ivan Karamazov, que dizia: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Descobri, na mesma hora, que as normas morais ou tinham um fundamento divino, absoluto, ou não tinham qualquer validade porque ficariam dependendo das opiniões e paixões de cada um.”
Aí se situa o ponto de partida do Existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, ficando o homem, por conseguinte, desamparado por não encontrar, nele mesmo e nem fora dele, algo a que se agarrar. Essa é a ideia central de Sartre, que a coloca como algo positivo. O problema é que sem Deus não existe referencial, lei ou autoridade moral que esteja acima da vontade própria do ser humano. Pertence ao autor francês Alexandre Dumas a frase: “traição é uma questão de datas”. Ou seja, quem ontem era terrorista, hoje é governo em muitos lugares do mundo.
Se Deus não existisse, o homem e o universo estariam condenados. A vida em si seria um absurdo, sem valor ou sentido maior. Por esta razão, as convicções e o que acreditamos ser verdade são essenciais para sabermos qual rumo daremos à nossa história. O homem é o que pensa, ou, se preferirem a citação de Agostinho: “O homem é