A trágica morte do garoto João Vítor, eletrocutado ao encostar em um fio solto em Anápolis, é mais um triste capítulo de um problema que a cidade conhece bem, mas insiste em ignorar.
Por Vander Lúcio Barbosa
Há anos, o Jornal CONTEXTO alerta para os riscos da fiação aérea desordenada que polui as ruas, prejudica a estética urbana e, sobretudo, ameaça vidas. A cena é comum: fios arrebentados, mal instalados ou simplesmente abandonados, expondo pedestres, ciclistas e motoristas a situações perigosas que, quando não encontram solução, terminam em tragédias evitáveis como essa.
O caso de João Vítor, além de chocar pelo sofrimento desnecessário de uma criança de 10 anos, revela uma sucessão de falhas. Empresas (nem todas) que exploram os serviços de energia elétrica, telefonia e internet usam os postes de forma irresponsável, muitas vezes abandonando cabos inservíveis sem se preocupar com os impactos.
Por outro lado, o poder público se mantém ineficaz em exigir cumprimento das normas e implementar políticas que ofereçam segurança e organização à população. Projetos de lei já existem — como a Lei Municipal nº 4.085/2020, que determina o alinhamento e a retirada de fios inutilizados —, mas sua aplicação tem sido negligenciada.
Após essa última tragédia, a Prefeitura de Anápolis anunciou a formação de uma força-tarefa para a retirada de fios desnecessários, e a Câmara Municipal criou uma frente parlamentar para discutir o problema. São iniciativas necessárias, mas que evidenciam um padrão de postura reativa: só quando uma nova tragédia ganha as manchetes é que medidas são anunciadas. Infelizmente, tais ações surgem em cenários de comoção e não como resultado de um planejamento consistente e contínuo, como a questão demanda.
Cidades pelo mundo já demonstraram que é possível solucionar esse problema. Muitos países já substituíram as redes aéreas por infraestrutura subterrânea, melhorando a segurança, a organização urbana e até mesmo o turismo. No Brasil, iniciativas pontuais em lugares como São Paulo e Pernambuco mostram avanços, mas ainda estão longe de serem suficientes. Em Anápolis, a solução esbarra, sobretudo, na falta de recursos financeiros e na aparente ausência de prioridade do tema na agenda pública.
Não podemos aceitar que mais mortes sejam necessárias para que algo efetivo seja feito. O problema da fiação elétrica em Anápolis não é apenas técnico, é moral. Ignorar o problema é negligenciar vidas. Que este alerta seja o último e que, finalmente, as ações se tornem realidade.