Em 1973, diante da dificuldade para sustentar um orfanato no México, o padre Sergio Gutiérrez Benítez tomou uma decisão inusitada. Depois de assistir ao filme “El Señor Tormenta” na televisão, decidiu usar a luta livre como alternativa para arrecadar fundos e garantir o funcionamento da “Casa Hogar de los Cachorros de Fray Tormenta”, um lar que acolhia crianças órfãs em Texcoco.
Para colocar o plano em prática, criou uma máscara nas cores vermelha e amarela e adotou o nome Fray Tormenta, inspirado diretamente no personagem do filme. Ele passou a treinar de madrugada e a celebrar missas pela manhã. Na estreia, arrecadou apenas 200 pesos. Apesar disso, escolheu continuar.
A trajetória
Durante 23 anos, o padre manteve sua identidade em segredo e atuou como lutador profissional em arenas no México, nos Estados Unidos, no Japão e também na Europa. Em todas essas lutas, destinou os recursos arrecadados à manutenção do orfanato. Ao mesmo tempo, acolheu mais de 2.500 crianças ao longo dos anos. Com o passar do tempo, conquistou notoriedade nacional e internacional. Por consequência, diversas produções culturais se inspiraram em sua história. Personagens de videogames, como King (Tekken) e Tizoc (Garou), surgiram com base em sua figura. Além disso, filmes como “L’Homme au masque d’or” (1991) e “Nacho Libre” (2006), estrelado por Jack Black, levaram sua trajetória para as telas.
O padre nasceu em 5 de fevereiro de 1945, na cidade de San Agustín Metzquititlán, no estado de Hidalgo, no México. Durante a juventude, enfrentou a dependência química. Logo depois, ingressou na vida religiosa. Aos 22 anos, iniciou os estudos de filosofia e teologia na Europa. Posteriormente, ao retornar ao México, assumiu o ministério como padre secular e fundou o orfanato em uma igreja deteriorada. Diante da ausência de apoio público, buscou soluções alternativas para manter a instituição funcionando, oferecendo moradia, alimentação e educação às crianças acolhidas.
Mesmo após se aposentar dos ringues, em julho de 2011, continuou celebrando missas usando a máscara que marcou sua trajetória. Atualmente, com quase 80 anos, enfrenta sérios problemas de saúde, como perda de visão, insuficiência cardíaca e insuficiência renal. Para ajudar no custeio do tratamento, apoiadores organizaram uma campanha online e arrecadaram mais de 100 mil pesos. Hoje, ele vive sob os cuidados de Crispín Bautista Alvalle, ex-orientando do orfanato. Esse discípulo assumiu o nome de Fray Tormenta Jr. e continua representando o personagem nos ringues, mantendo viva a figura do sacerdote-lutador e preservando o legado construído ao longo de décadas.