Especial/Nilton Pereira
Um dos maiores (se não o maior) enfrentamentos que aguardam a definição do futuro prefeito de Anápolis (toma posse em 1º de janeiro) – seja Roberto Naves, na condição de reeleito, ou, Antônio Gomide, de retorno ao comando político/administrativo do Município, é, indiscutivelmente, no setor hídrico. Um deles, de caráter natural, é o combate aos estragos provocados pelas enxurradas, que além de danificarem o piso asfáltico na região urbana, ainda causam danos consideráveis com a formação de voçorocas, crateras e outros comprometimentos na infraestrutura, o que compromete (e muito) o sistema viário. Isto, sem contar os casos frequentes e repetitivos de inundações e enchentes nas partes mais baixas da Cidade. Tal situação, além de aborrecimentos e danos materiais de todas as montas, é responsável, também, por perdas humanas, casos e fatos registrados ao longo dos últimos anos.
O comprometimento das redes de captação de águas pluviais, segundo levantamentos oficiais, é quase que total. A maior parte da canalização que, a princípio, seria destinada a captar a água das chuvas e darem a ela a destinação correta, se acha entupida, encalhada e sem qualquer utilidade prática. Há quem diga que a maior parte, principalmente na região mais central (cidade antiga) está irreversivelmente condenada e que a situação somente se resolveria com a abertura de novas valas e a colocação de nova tubulação. Obra gigantesca e de alto custo, inviável nos dias de hoje, dada a situação econômico/financeira da Prefeitura.
Defende-se, ainda, além da desobstrução das galerias, o desenvolvimento de uma ampla campanha educativa para que a população colabore e não descarte resíduos sólidos (garrafas pet; latas de bebidas; vidros; madeiras, borrachas e outros produtos que, inegavelmente, obstruem as galerias) para que não se perca o trabalho e se desperdicem verbas, como ocorre atualmente.
O desafio maior
Mas, em que pese a importância de se estabelecer, em Anápolis, um projeto de combate aos danos causados pelas águas pluviais, a maior demanda (na visão da maioria da população) é a garantia de fornecimento de água tratada nos domicílios da Cidade. Este é um desafio que atravessa décadas, não tendo, até hoje, o estabelecimento de parâmetros. Vários foram os governadores do Estado vários foram os prefeitos que estiveram frente a frente com esta situação, que teima em persistir. Na última década, a tensão se agravou, pois milhares de residências e estabelecimentos econômicos (comércio, indústria e prestação de serviços) ficaram privados de um fornecimento regular. As perdas foram inestimáveis, tanto economicamente falando, quanto do ponto de vista de cidadania.
Historicamente, registra-se que o último grande impulso dado na política de água potável e tratamento de esgoto em Anápolis, praticamente, se perdeu no tempo. Desde que a antiga SUMSAN (Superintendência Municipal de Saneamento) gerida pela Prefeitura, foi cooptada pela SANEAGO, com a captação de água sendo transferida da Represa Fanstone (onde hoje é o Parque “Onofre Quinan”) para o Ribeirão Piancó, isto na década de 70, a rigor, desenvolveu-se, somente, um plano anterior que era de dotar a Cidade com o fornecimento de água potável com boa qualidade e em quantidade suficiente, até 1975. De lá para cá, entretanto, foram poucos (ou razoáveis) os investimentos. Depois disso, na década de 80 (Governo Henrique Santillo), a SANEAGO desenvolveu seu maior investimento em Anápolis, mas, na área da coleta e tratamento de esgotos sanitários. Na ocasião, a Cidade se tornou uma da poucas comunidades brasileiras com a cobertura quase que de 100 por cento nesta questão ambiental. Também, ficou nisso e, nos anos seguintes, foram poucas as aplicações de recursos em obras de saneamento.
Insustentável
De ponto de vista técnico, nos últimos anos, a situação se tornou, praticamente, insustentável. Em que pese a necessidade, urgente, de se aumentar a oferta de água tratada (a cidade tem ramais de distribuição em, praticamente, todos os setores. O que falta é a água nas torneiras) por causa do crescimento urbano, com milhares de novas edificações surgindo a cada ano, a capacidade de distribuição é limitada. Para se ter uma ideia, hoje é inviável a edificação de condomínios (horizontais ou, verticais) com mais de 20 unidades na Cidade. A SANEAGO não fornece o AVTO (Atestado de Viabilidade Técnico Operacional), a não ser que o empreendedor perfure, com recursos próprios, poços artesianos e os doe para a Empresa administrar, e, cobrar pelo serviço.
Nos últimos anos, também, o desafio das águas (principalmente a potável) passou a ser referência nas discussões político/partidárias, deixando de lado o foco mais técnico. O último grande debate ficou por contra da renovação do contrato de exploração do serviço entre a Prefeitura e a SANEAGO, três anos antes de seu vencimento. Correntes acusam ser uma medida intempestiva. Outras entendem que, se não houvesse tal renovação, a Empresa ficaria reticente em fazer altos investimentos na Cidade. Este assunto, por sinal, ocupou grandes espaços nas recentes campanhas políticas na disputa pela Prefeitura. Praticamente todos os candidatos anunciaram planos, projetos e ideias para solucionarem o problema. Assim sendo, ou Antônio Gomide (PT), ou Roberto Naves (PP) – os dois finalistas -, será o protagonista do próximo capítulo de uma grande novela em que ambos já figuraram na condição de prefeitos de Anápolis. Por certo, a comunidade anapolina aguarda um final feliz. E, que não seja tão demorado.