Anvisa determinou a suspensão dos testes nesta segunda-feira, 09/11, alegando ‘evento adverso grave’. Presidente do Instituto Butantan afirmou que caso não teve nenhuma relação com a vacina
Da Redação
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta terça-feira, 10/11, que a suspensão pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) dos estudos clínicos da Coronavac no Brasil é “mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.
Os comentários do presidente foram feitos no Facebook, em resposta a um seguidor que lhe perguntou se o imunizante contra a Covid-19 em desenvolvimento por uma farmacêutica chinesa e pelo Instituto Butantan seria comprada pelo governo federal.
“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o [governador João] Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la”, escreveu o presidente como resposta. “O presidente [Bolsonaro] disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.
Junto à reposta, o presidente publicou o link de uma notícia sobre a decisão da Anvisa de suspender os testes.
A agência de vigilância informou na noite desta segunda-feira (9) que determinou a interrupção do estudo clínico da vacina Coronavac no Brasil após a ocorrência de um evento adverso grave.
O efeito adverso em questão foi a morte de um voluntário de 33 anos, morador de São Paulo, no dia 29 de outubro.
As autoridades de saúde do estado receberam nesta segunda (9) a informação de que o óbito não está relacionado com a vacina, embora não haja dados públicos, como por exemplo se o voluntário havia recebido uma dose do imunizante ou um placebo.
O próprio diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou à TV Cultura que o caso nada tinha a ver com a Coronavac e que, por isso, se surpreendeu com a decisão da agência. “A Anvisa foi notificada de um óbito, não de um efeito adverso.”
Causa da morte
A causa da morte do voluntário da CoronaVac, que teria feito a Anvisa suspender os testes com a vacina, foi suicídio, de acordo com boletim de ocorrência obtido pela TV Globo nesta terça-feira (10).
De acordo com o boletim de ocorrência registrado às 16h02 de 29 de outubro em uma delegacia da Zona Oeste de São Paulo, policiais militares foram acionados pelo rádio para uma “ocorrência de encontro de cadáver”. Ao chegarem ao apartamento, uma pessoa mostrou a vítima desmaiada no chão do banheiro com uma seringa perto do braço e diversas ampolas de remédio. O corpo do jovem de 32 anos foi para o Instituto Médico Legal (IML).
O laudo necroscópico deve ser divulgado depois porque, neste caso, o resultado depende do exame toxicológico, que demora mais tempo para ficar pronto.
Mais cedo, o governo de São Paulo afirmou, em coletiva de imprensa, ser impossível relacionar o “evento adverso grave” que acometeu o voluntário do estudo clínico da CoronaVac com o imunizante.
Entenda o caso
- A Anvisa suspendeu, na segunda (9), os testes da CoronaVac citando um “evento adverso” com um voluntário;
- O evento adverso foi a morte de um voluntário;
- O Butantan, que desenvolve à vacina, se disse surpreso: ‘É impossível a vacina ter relação com o evento adverso’, disse o diretor do órgão;
- Pela manhã, Bolsonaro comemorou a pausa no teste: ‘Mais uma que Bolsonaro ganhou’;
- No início da tarde, soube-se que o voluntário se suicidou.

Na noite desta segunda-feira (9), a Anvisa suspendeu os testes da vacina da Sinovac, feita em parceria com o Instituto Butantan, após ter sido notificada sobre um “evento adverso grave” em um voluntário.
“Os dados são transparentes. Por que nós sabemos e temos certeza de que não é um evento relacionado à vacina? Como eu disse, do ponto de vista clínico do caso e nós não podemos dar detalhes, infelizmente, é impossível, é impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina, impossível, eu acho que essa definição encerra um pouco essa discussão”, afirmou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
A declaração foi dada pelo diretor durante coletiva de imprensa na sede do Instituto Butantan, após o governo paulista se reunir virtualmente com representantes da Anvisa para tratar sobre a suspensão dos testes. Na noite de segunda, Dimas Covas afirmou que o voluntário morreu, mas disse que o óbito não tinha qualquer relação com a vacina.
Indignação
Durante a coletiva desta terça, representantes do governo de São Paulo demonstraram indignação com a medida e defenderam que não há relação entre o evento adverso e o imunizante.
“Não houve nenhuma relação da vacina com o evento adverso grave apresentado”, defendeu o secretário estadual de saúde, Jean Gorinchteyn.
Dimas Covas disse que a suspensão, além de desnecessária, provoca “dor e sofrimento nos voluntários”. “Não haveria a necessidade desse tipo de medida, que poderia ser resolvido administrativamente, como foi feito hoje de manhã”, disse Covas.
“Se interromper um estudo clínico que está indo muito bem causa sofrimento, causa dor, causa insegurança, naquelas pessoas que já foram submetidos ao estudo, causa dificuldade naqueles que querem ser submetidos ao estudo e que estão na fila para receber a vacina ou o placebo. Ou seja, são os voluntários, as pessoas que se dedicaram a esse estudo exatamente para trazer a esperança da vacina”, disse Covas.