Ao prepará-las, ele percebia que algumas ficavam duras e tinham tamanhos irregulares, o que prejudicava a qualidade dos pratos
Histórias de sucesso têm sempre por trás um grande senso de oportunidade e paixão, por parte de seus protagonistas. Foi a busca pela excelência que fez com que o chefe de cozinha Emanoel Amorim se tornasse um empresário de sucesso. Nascido em Recife, capital do estado nordestino de Pernambuco, ele trabalhava como auxiliar de cozinha num restaurante. Não demorou muito até que aprendesse os segredos da culinária para subir de nível na carreira.
Presente em muitos pratos do Brasil e do mundo, a mandioca é um dos alimentos mais versáteis que existem na cozinha, podendo ser servida inteira, desfiada, em forma de pasta ou massa e ainda em grânulos, compondo uma infinita variedade de pratos.
“Às vezes o cliente nem sabe que aquilo que está comendo tem mandioca na composição, mas é o que dá a textura, a consistência ou o aroma”, explica Emanuel.
Acontece que até bem pouco tempo, a mandioca no Brasil era produzida de forma muito artesanal e rudimentar. Plantada em qualquer lugar, sem contagem de tempo para ser colhida, extraída, cortada e conservada, “do jeito que dava”, sem a observância da espécie certa a ser cultivada. O resultado era um produto que chegava aos restaurantes sem qualquer padrão de qualidade.
Pequenas ou grandes demais, duras, com colorações diferentes, muito grossas ou muito finas e com sabores imprevisíveis. “São mais de 4 mil espécies de mandiocas no mundo. Nem todas são comestíveis. Algumas são até tóxicas. Não havia nenhum cuidado por parte dos produtores. Plantavam ao Deus dará e colhiam a qualquer hora. O produto era desvalorizado no mercado”, relembra Amorim, que adorava usá-la em seus pratos, mas acabava frustrado.
Viagem ao exterior
Como chefe de cozinha, Emanoel foi para Portugal à convite do irmão, que lá residia. Levou consigo a mulher e os dois filhos. Teve a oportunidade de trabalhar em grandes e renomados restaurantes, fez cursos e aprendeu ainda mais sobre a versatilidade da mandioca, também muito consumida e apreciada na Europa. Entretanto, lá ela era tudo muito diferente.
As mandiocas vinham em pedaços uniformes, com diâmetros de 5 a 6 centímetros e 3 centímetros de espessura. Eram de uma única espécie, do tipo amarela, saborosíssima, macia, fácil de cozinhar e embalada à vácuo, mantendo-se fresca por muito mais tempo. Por causa disso, o padrão dos pratos elaborados por Amorim subiu muito. “Era um produto em que eu podia confiar. Não tinha erro”.
Foi aí que o chefe percebeu uma oportunidade. Desenvolver isso no Brasil. Emanoel conheceu a fábrica e depois a plantação e aprendeu a ciência por trás da produção de uma mandioca de máxima qualidade. Desde o preparo da terra, a escolha da espécie, a irrigação, a colheita no tempo certo, o processamento, a conservação e a distribuição. Tudo voltado para agregar qualidade e valor comercial.
A implantação no Brasil
De Portugal, Emanoel e a família foram para a Inglaterra. Na capital, Londres, se formou em vários cursos de culinária e esteve à frente de cozinhas respeitadas. Mas, só trabalhava por lá durante o verão. No inverno, voltava ao País. Foi assim que, nos últimos cinco anos, ele montou uma indústria com os mesmos padrões europeus de processamento de mandioca na cidade de Anápolis. “Ninguém supera a nossa qualidade no Brasil”, afirma Amorim.
Segundo ele, a produção da mandioca é totalmente controlada desde a escolha da terra. São seis alqueires de solo preparado para receber um tipo específico da espécie amarela. Toda a lavoura é irrigada e a colheita é feita pontualmente no sexto mês após o plantio. Depois, as raízes são processadas em talos uniformes, que são vendidos inteiros. As sobras, são raladas ou moídas, dando origem a uma pasta cremosa produzida em diferentes granulações.
Todos os produtos são embalados à vácuo e chegam frescos às mãos dos consumidores em menos de 24 horas. “Você já deve ter notado que a qualidade das mandiocas mudou de uns tempos pra cá. Fomos nós que trouxemos esse processo”, esclarece o chefe. A fábrica entrega 28 toneladas por mês só em Anápolis. É a segunda maior empresa do tipo em Goiás.
Planos para o futuro
Emanoel explica que a meta é a exportação. O Brasil é o 4º maior produtor do mundo, perdendo apenas para Nigéria, Tailândia e Indonésia. Entretanto, a qualidade do produto brasileiro é melhor. Dentro do País, Goiás é o 2º estado em produção, atrás do Pará, colocando Emanuel entre os maiores no ramo. Mas ele não quer dar passos maiores que as pernas. A médio prazo, pretende conquistar os mercados de Goiânia e Brasília, associando-se a grandes supermercados.
Com um produto 100% natural, que não recebe agrotóxicos durante o plantio e nem conservantes após a colheita, com a capacidade de chegar fresco às mãos do consumidor, Amorim considera que a aceitação vai continuar crescendo.
“Desde que montei a empresa, nossa produção dobrou a cada ano e não vejo motivo para isso desacelerar. Começamos em Anápolis, fomos muito bem recebidos e agora nos preparamos para abraçar o mercado brasileiro”, comemora o empresário.