Secretária de Desenvolvimento Social Eerizania Freitas fala da
importância da sensibilidade na criação de políticas públicas de assistência
Por
Vander Lúcio Barbosa
José Aurélio Mendes
Há mais de 20 anos no serviço público, a Secretária de Assistência Social de Anápolis não esconde a emoção diante da rotina de trabalho. Acostumada a visitar famílias em situação de vulnerabilidade social, ela revela que as lágrimas são comuns na vida dos assistentes sociais. “Acho importante estarmos sempre sensíveis à essa realidade. Só assim conseguimos implantar políticas públicas que atendam, de fato, as necessidades dessas pessoas”, afirma.
Convidada pela Primeira Dama, Vívian Naves, para ocupar o cargo no início da atual gestão, Eerizania já fazia parte do corpo de assistentes sociais do município. Especialista em Gestão e Planejamento, diagnosticou o ponto em que uma intervenção seria mais significativa para a população menos favorecida: A implantação do SUAS – Sistema Único de Assistência Social. Previsto pela lei 8.742, de 1993, tem um papel análogo ao que o SUS desenvolve na saúde; unificar o tratamento, oferecendo os mesmos serviços para todos.
“Esse foi o principal marco para a assistência social em Anápolis. Depois disso, sabemos exatamente o que estamos fazendo e não existirá mais quebra na sequência dos programas”, resume. Segundo a secretária, antes disso, cada gestor implantava seu plano de assistência, sendo necessário um tempo de adequação em cada mandato. Agora, o SUAS prevê quais serviços devem existir, contemplando um amplo espectro de situações de vulnerabilidade social.

para o trabalho social realizado em Anápolis
Trabalho em campo
Entretanto, Eerizania passa pouco tempo no gabinete. Ela e a Primeira Dama costumam visitar comunidades carentes três vezes por semana, entre as 9 e as 15 horas. Nessas visitas, elas falam diretamente com as pessoas, conhecendo problemas individuais e reportando aos setores competentes dentro da secretaria. “Conscientizamos as pessoas de que elas não só podem, como devem procurar assistência social”, define ela, ressaltando que há uma diferença entre assistencialismo e assistência. “O primeiro dá o peixe, cria dependência. A segunda, dá a vara e ensina a pescar, gera independência. Praticamos a segunda”.
Para exemplificar, a titular da pasta cita os encaminhamentos feitos para capacitação e qualificação para o trabalho, onde cursos deixam pessoas, antes sem perspectiva, preparadas para exercer uma função na sociedade e gerar renda. “O SUAS prevê isso. É uma forma de prevenir a vulnerabilidade social. Mas existem outros programas para quando essa vulnerabilidade já trouxe consequências”, detalha.
É o caso do abandono de idosos, muito comum nos noticiários. Filhos e netos que deixam de lado ou mesmo se aproveitam financeiramente e da estrutura do lar do idoso, para extorqui-lo. “Às vezes são viciados em drogas, que usam a renda do idoso para sustentar o vício, estando protegidos pelo sentimento parental dele, que não denuncia”, completa. Nesses casos, a secretaria age em conjunto com o Ministério Público, os abrigos e a Delegacia do Idoso.
Emoção
Durante a entrevista exclusiva ao CONTEXTO, Eerizania citou dois casos que a emocionaram bastante. Já na pandemia, numa das visitas – cumprindo todos os protocolos de segurança epidemiológica, uma mulher pediu socorro, por estar sendo mantida em cárcere privado, enquanto o homem abusava sexualmente dela e das duas enteadas. “Ao confirmarmos a situação, não tivemos como conter as lágrimas. É quando vemos a importância da atuação da assistência na vida das pessoas”. A polícia foi acionada e essa mulher pôde ir para um abrigo especialmente criado para isso: socorrer mulheres que denunciam o abuso ou violência do companheiro e não querem voltar para casa. “O programa prevê que elas permaneçam lá, com os filhos, até a transição para uma outra vida, recebendo todo o apoio, de acordo com o protocolo do SUAS”.
O outro caso foi de uma criança de dois anos, morta pelo padrasto com a participação da mãe. Ela passou meses sendo agredida e mantida num galinheiro. Nos momentos finais, foi brutalmente violentada, inclusive sexualmente, até a morte. A autópsia revelou sinais de traumas antigos, demonstrando que a violência era feita de forma contínua. “Infelizmente, nesse caso, não houve denúncia. Só tomamos conhecimento depois da morte. Daí a importância de vizinhos, parentes, ou qualquer testemunha denunciar essas suspeitas. Só assim conseguimos atuar antes que o pior aconteça”.
Eerizania destaca que, quando as suspeitas se confirmam, a secretaria age em parceria com os Conselhos Tutelares e com o Juizado da Infância e da Juventude. Segundo ela, o juíz Carlos Limonge é figura importante na solução dos problemas que envolvem a agressão dos menores de 18 anos.
Através do Juizado é possível conseguir abrigos, adoções definitivas e até mesmo temporárias, permitindo que eles possam ter o que há de mais próximo de um lar, com apoio psicológico e assistencial. “Essa é uma fração do que é o meu trabalho à frente da pasta: emoções fortes todos os dias, mas que são compensadas por outra emoção: a de poder fazer algo para ajudar essas pessoas, de uma maneira segura e já programada pelo SUAS”, finaliza ela.