Honraria pode levar o nome de Francisca Miguel, professora que foi a primeira vereadora de Anápolis
Um projeto de decreto legislativo em tramitação na Câmara de Anápolis, propõe a criação da Comenda Vereadora Francisca Miguel. A homenagem seria dada às personalidades anapolinas que prestam serviços relevantes em prol da luta pelos direitos da mulher.
Primeira vereadora eleita em Anápolis, em 1947, Francisca Miguel foi também uma pioneira na área da educação municipal. Tanto é que existe uma escola que leva seu nome no Jardim das Oliveiras. Segundo a casa, a comenda vai ao encontro da luta por mais representatividade feminina na política, algo que acontece a passos lentos.
Inauguração do novo pronto socorro marca os 75 anos da Santa Casa de Anápolis
Na época, depois da vitória de Francisca Miguel, parecia que as portas haviam se abertos para as mulheres, mas não foi o que aconteceu. Foram necessários mais 41 anos para que mais uma mulher chegasse à Câmara. A bancada de mulheres na legislatura atual é a maior da história, mas ainda assim são cinco entre 23 cadeiras.
A proposta da Comenda Vereadora Francisca Miguel encerra um ano em que houve muita discussão no Legislativo municipal, por questões ligadas às mulheres, como o projeto do código emergencial e as palestras, em diversos bairros, cujo tema é “Mais Informação e Menos Agressão”. Se o projeto for aprovado, a entrega ocorrerá anualmente em novembro, em alusão ao Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher.
Pioneirismo
Um trabalho escrito por Emanuella Oliveira do Nascimento e Sandra Elaine Aires de Abreu, apresentando no curso de Pedagogia da Unievangélica, resgata a história da criação do ensino secundário público em Anápolis, deixando clara a participação de Francisca Miguel em todo o processo.
Segundo o texto, a criação do Ginásio Municipal de Anápolis teve início com o projeto de lei nº 159, de 31 de maio de 1948, apresentado à Câmara Municipal pela vereadora Francisca Miguel.
“Na contramão da historiografia da educação brasileira, que considerava o ensino secundário como de elite, a proposta da vereadora era a de democratização do ensino secundário na sociedade anapolina, oferecendo esse ramo de ensino via instituição pública para atender uma parcela da população que não poderia custear esse nível de ensino nas escolas particulares”, escrevem as autoras.
“Após aprovação do projeto de lei, o Ginásio Municipal de Anápolis foi criado pela lei n° 69, de 30 de junho de 1948 e inaugurado no dia 2 de julho de 1948, em uma sessão aberta pelo prefeito no prédio do grupo escolar, com a presença do Dr. Benedito Lourenço Dias, Dr. Adahyl Lourenço Dias, Baltazar dos Reis a vereadora Francisca Miguel, entre outros”, diz ainda o estudo.
A representação feminina na Câmara Municipal de Anápolis
Na eleição de 1947, Francisca Miguel, pelo Partido Republicano (PR), foi a primeira vereadora eleita de Anápolis. Isso, numa época em que a política era um universo predominantemente masculino. Na Casa, ela exerceu o cargo de secretária da Mesa Diretora, na gestão do então presidente Adhayl Lourenço Dias e, por um curto período, exerceu também a Presidência.
Depois do mandato de Francisca Miguel, abriu-se um hiato na participação da mulher no Poder Legislativo Municipal, que durou até 1983, quando foi eleita Maria Conceição Meireles. Em 1989, Marlene Barbaresco se elegeu pelo PT, partido ainda novo no cenário político brasileiro, representando o pensamento de esquerda. O que, também já era uma barreira.
Mirian Garcia foi a mulher que mais vezes foi eleita vereadora. Ela chegou ao cargo nas eleições 1992. Depois, foi novamente reeleita nos pleitos de 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016. Ou seja, foram cinco mandatos. A tucana teve a companhia, por três mandatos, da vereadora Dinamélia Rabelo, do PT, eleita nos pleitos de 2004, 2008 e 2012. O pleito de 2008 elegeu a vereadora Gina Tronconi, que exerceu, apenas, um mandato no parlamento anapolino.
Na legislatura 2016-2020, foram eleitas para a Câmara Municipal, quatro representantes do sexo feminino: Vilma Rodrigues elegeu-se pelo PSC, obtendo 3.577 votos (ela faleceu em exercício de mandato); Thaís Souza, com 2.010 votos, foi eleita pelo PSL; Professora Geli, foi reeleita pelo PT, com 1.326 votos e Elinner Rosa, do MDB, elegeu-se com 1.045 votos.
Juntas, as quatro representantes femininas somam 7.958 votos, o que corresponde a 4,11% dos votos válidos para o cargo de vereador. Chegar à Câmara não foi fácil, pois tiveram de enfrentar um verdadeiro vestibular das urnas, com 561 candidatos concorrendo. Desse total, cerca de 180 mulheres.
Até então, a 18ª legislatura detinha o recorde de mulheres eleitas para o parlamento municipal. Mas, esse recorde foi quebrado na eleição da 19ª legislatura, em novembro do ano passado.
Andreia Rezende (SD) foi a mais bem votada da bancada feminina e a segunda mais votada entre os 23 vereadores eleitos e reeleitos para o ciclo atual. Ela obteve 2.841 votos. Em seguida, Thaís Souza (PP), que conquistou o segundo mandato com 2.493 votos. Na sequência, mais três vereadoras novatas: Seliane da SOS (MDB), 1.714 votos; Trícia Barreto (MDB), 1561 votos e Cleide Hilário (Republicanos), 1.456 votos.
Das cinco eleitas, apenas Thaís Souza teve reeleição e as demais colegas estão exercendo pela primeira vez a vereança.
Agora, é esperar pela eleição de 2024 e torcer para que mais uma vez esse recorde seja quebrado. Afinal, elas merecem esse espaço. (Claudius Brito)