Transportes por meio de aplicativos cresceu muito na cidade, nos últimos anos. A praticidade é um dos principais motivos. Mas, há também alguns riscos e, por isso, todo cuidado é pouco
Deslocar-se de um ponto para outro, dentro de uma mesma cidade, pode ser uma tarefa mais difícil do que deveria. Longas distâncias, centros pulverizados e um custo relativamente alto no transporte constroem algumas das dificuldades que o brasileiro apresenta ao exercer a sua mobilidade.
No entanto, com o crescimento expansivo da tecnologia, a locomoção tem se tornado, cada vez mais, algo prático. Um exemplo disso são os inúmeros aplicativos de transportes que possibilitam, entre várias outras alternativas, que o passageiro escolha o tipo de carro e o melhor custo benefício.
Em Anápolis, desde 2017, com a chegada da Uber, a população vem usufruindo das novas possibilidades de locomoção. Com a alta demanda da multinacional americana no município, outras empresas logo começaram a prestar serviços na cidade, como é o caso da 99 POP, Seven, UPTrip, Yet Go e User.
Praticidade
Na vida da publicitária e estudante Ana Carolina Cruz, de 23 anos, o uso dos aplicativos é algo diário. “Todos os dias eu utilizo para ir e voltar do trabalho. O bom é que, com tantas opções, hoje é possível fazermos uma pesquisa de preço e escolher pelo mais rentável”, explica.
A jovem, que mora no Jardim Ana Paula, conta que gasta, aproximadamente, R$ 300 por mês com as corridas de ida e volta para o local de trabalho, no Jundiaí. Ela ainda revela que, em média, cada uma sai pelo valor de R$ 7,50.
O fato é que, com a grande concorrência, além do custo benefício, a criatividade acaba sendo essencial e, neste quesito, a UPTrip ganhou vantagem entre as mulheres quando disponibilizou a opção que permite as passageiras selecionarem, apenas, motoristas do sexo feminino. Garantido, dessa forma, a tranquilidade de muitas.
“Sempre que preciso pegar um carro à noite, seja para algum compromisso, ou, até mesmo, quando volto tarde do serviço, fico mais tranquila se a motorista for mulher. Infelizmente o assédio e esta preocupação são constantes em nossas vidas”, completa Ana Carolina.
Contudo, a Uber e a empresa paulista 99Pop, que chegou no município em meados de 2018, ainda são as mais escolhidas pela população anapolina. Ambas as plataformas, bastante parecidas em suas funções, inovaram ao acrescentar o serviço de entregas e planos mensais aos usuários. Juntas, estima-se que elas oferecerem mais de 5.000 empregos aos motoristas cadastrados em Anápolis.
Por trás do volante

Ficar trancado dentro de um veículo transportando outras pessoas pela cidade em plena pandemia faz dos motoristas, seja de aplicativos ou, até mesmo, táxi, alvos fáceis do novo coronavírus. Na luta pela sobrevivência, eles se arriscam e, muitas vezes, acabam contraindo a Covid-19.
Por outro lado, com a crise instalada junto ao surto epidêmico, essa acaba sendo a saída para muitos que precisam fechar as contas no fim do mês. O professor Leonardo Leal, por exemplo, após mais de dez anos dando aulas, teve de se adaptar a essa nova realidade.
“Desde outubro de 2020 que estou trabalhando como motorista de aplicativo para complementar minha renda. Nesse período, nós que atuamos na área, estamos vivendo em uma montanha russa cuja situação varia conforme a gravidade da pandemia”, explica.
O professor e, também, funcionário público revela que trabalha como motorista apenas no período noturno e durante os finais de semana. Mesmo assim, sua arrecadação mensal, apenas nos aplicativos, gira em torno de um salário mínimo. “Como eu tenho outra fonte de renda, acaba dando certo e consigo finalizar o mês. Entretanto, tenho outros colegas que passam apertado. Na primeira semana de lockdown, por exemplo, nossa arrecadação caiu mais de 50%”.
Mariana, por sua vez, já está nessa rotina há quase seis anos e hoje vive apenas das corridas diárias. Agora formada em Administração de Empresas, a jovem, de 28 anos, mesmo morando em Anápolis, começou a trabalhar como uber na capital. “Eu ia apenas três vezes, de segunda a sexta-feira, e rodava das 8h às 14h. Já no final de semana, sábado e domingo, eu ficava das 20h às 4h”, revela.
Segundo a administradora, desde que a empresa começou a atuar em Anápolis, ela vem revezando entre as duas cidades. No entanto, mesmo com toda correria, as dificuldades da pandemia estão sendo sentidas.
“É assustador, pois em um final de semana eu conseguia fazer cerca de 60 corridas. Essa quantia diminuiu pela metade. Da mesma forma, minha renda mensal que girava em torno de R$ 3.800. Hoje sou cadastrada em vários aplicativos, mas, ainda assim, a situação está longe de ser o que era antes”, afirma.
Taxista
Para o tradicional taxista Seu Welinton, como carinhosamente é conhecido em Anápolis, o caso ainda é mais delicado. O profissional, que atua no ramo do transporte a mais de 30 anos, conta que antes da pandemia a situação já estava um pouco embaraçosa, no entanto, não imaginava que pudesse ficar tão difícil.
“Com a chegada dos aplicativos, sem dúvidas, a clientela já diminuiu muito. A maioria dos meus passageiros são pessoas mais idosas, clientes fiéis e antigos. Por causa da pandemia, esse público teve de ficar mais recluso e, com isso, o movimento caiu extremamente”, relata.
Seu Welinton ainda conta que muitos amigos e colegas de profissão desistiram de atuar na área por causa da baixa demanda e pede solução por parte das autoridades. “Para nós a situação é ainda mais complicada. Precisamos que o governo tome alguma atitude. Quem vive do transporte está sendo muito prejudicado”, enfatiza.
Em alguns estados como, por exemplo, o Distrito Federal, o governo irá começar, na próxima segunda-feira (10), a pagar o auxílio de R$ 600 aos taxistas e profissionais do transporte escolar. O repasse faz parte do programa Mobilidade Cidadã, que deve beneficiar 3,9 mil pessoas, segundo o Executivo local.
“Esse exemplo precisa ser levado à Assembleia de Goiás. Mesmo não sendo uma quantia grande, já ajudaria muito os motoristas que estão passando por dificuldade a se manter”, completa Welinton.
Perigos
Não dá para negar, de fato os aplicativos de transportes são de grande ajuda no dia a dia. Todavia, da mesma forma que eles são práticos e cômodos, também podem vir a se tornar um risco.
As empresas costumam tomar algumas precauções para oferecer um serviço seguro. Os motoristas cadastrados passam por uma triagem, que inclui a verificação de antecedentes criminais e a checagem de dados pessoais antes de fazer a primeira corrida pelo aplicativo. No entanto, todo cuidado nunca é demais.
Algumas informações básicas sobre o motorista e sobre o veículo ajudam a evitar situações de risco. A Uber, a 99, e a UPTrip exibem o nome, o modelo do carro e a placa assim que a corrida é confirmada.
Comportamento de risco
Os smartphones são objetos de valor que podem chamar a atenção durante os minutos em que o passageiro aguarda na calçada. Por isso, caso seja possível, as empresas aconselham aos usuários que mantenham o celular guardado e verifique a evolução da corrida de tempos em tempos.
No caso do condutor, a dica é para manter os celulares em posição mais discreta, se possível, à esquerda, e também diminuir o brilho da tela do aparelho para não chamar muito a atenção.
Outra dica de extrema importância é para que o passageiro sempre compartilhe a corrida com alguém. Essa opção está disponível em plataformas como a Uber e a 99Pop. Desta forma, outras pessoas, de escolha do passageiro, poderão te acompanhar em tempo real.