Com um baú de histórias, a estação ferroviária, inaugurada em 1935 teve apoio do Ministério Público para sair da “invisibilidade”
“O que a memória ama fica eterno”. Que relação este trecho do poema “Para o Zé”, da escritora mineira Adélia Prado, pode ter com o relato que trazemos neste sexto episódio da temporada do projeto MP Pra Você.
Na verdade, em seu sentido lírico, ele resume muito bem o sentimento de posteridade e preservação da memória contido nesta saga de uma promotora de Justiça em busca de resgatar a história. A história de um lugar, de uma cidade e, também e sobretudo, das pessoas.

Este lugar, este espaço é uma estação de trem, a Estação Ferroviária de Anápolis (a cidade). E as pessoas, essas são todas aquelas que tiveram suas vidas marcadas pela estação, como a Ivonilde Pereira, filha do ferroviário Osvaldo Pereira, já falecido, que atuou na estação por décadas.
“Eu tenho uma alegria de falar sobre (a estação). Porque, para mim, é a memória do meu pai que está aqui”, descreve, brincando que o pai era um “amante” da estação.
Essa alegria que ela menciona é pela restauração enfim concluída do espaço físico histórico, após anos de luta. Inaugurada em 7 de setembro de 1935, a Estação Ferroviária de Anápolis chega neste fim de semana aos 90 anos, servindo ao seu propósito histórico e cultural, graças a um esforço conjunto que tirou o local da decadência e da invisibilidade para recolocá-lo na memória da cidade.
Ação do MPGO
Esforço que foi liderado e teve participação decisiva da promotora de Justiça Sandra Mara Garbelini. Atualmente, subprocuradora-geral para Assuntos Institucionais do Ministério Público de Goiás (MPGO), a promotora foi por vários anos titular da 15ª Promotoria de Justiça de Anápolis, com atribuição na defesa do meio ambiente e também do patrimônio histórico.

Promotora Sandra Mara Garbelini ajudou escrever história de preservação do patrimônio ferroviário na antiga estação.
Foi lá que ela conheceu a história de abandono e descaso daquele local de “encontros e despedidas”, tão bem traduzido na canção de Milton Nascimento e Fernando Brandt: “a plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar”.
No caso de Anápolis, era uma plataforma que não tinha mais essa “vida”. Depois de anos servindo para as chegadas e partidas de trens, locomotivas, o local tinha se tornado um terminal de ônibus, com uma agitação e um vaivém de gente que escondia o seu passado ferroviário, de tanta riqueza.
“Um prefeito da década de 80 (1980) acaba cedendo a parte de trás da estação, onde estava a casa do chefe, para fazer um terminal urbano. E a empresa demoliu a antiga casa”, relata o historiador Jairo Alves Leite.
A história poderia ter continuado assim, oculta, não fosse a sensibilidade da promotora Sandra Garbelini ter sido despertada pela mobilização da população de Anápolis. Como ela conta, em junho de 2008, recebeu na promotoria um abaixo-assinado com centenas de assinaturas da população pedindo a atuação do MP na proteção da Estação Ferroviária. E decidiu agir. Só não sabia que seria um caso tão complexo, tão difícil e “que levaria tantos anos para sua conclusão”.
Começou aí uma saga de contornos quase épicos para trazer a Estação Ferroviária de Anápolis de volta à vida, como espaço de preservação da história e da memória.

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